sexta-feira, 29 de maio de 2009

A felicidade, desesperadamente

"Segundo o autor, a felicidade interessa a todo mundo, pois cada homem a procura, principalmente os filósofos, que desde o surgimento da filosofia a tinham como objeto de reflexão.

Contudo, os filósofos da segunda metade do século XX deixaram de considerá-la um problema filosófico. André Comte-Sponville resgata a felicidade determinando-na como meta da filosofia e a verdade como a norma da filosofia. Isso porque apesar de buscar a felicidade, o verdadeiro filósofo opta por uma tristeza real a uma felicidade ilusória.

O autor diz que a sabedoria é necessária por dois motivos: porque somos infelizes e porque somos mortais. Quando temos tudo para ser feliz e não somos, é porque nos falta sabedoria. E sabedoria é saber viver, aprender a viver. Sponville cita o desejo, conceituado por Platão como aquilo que nos falta. E ser feliz é ter aquilo que desejamos. Mas no momento que temos o que desejamos, o desejo acaba, pois aquilo já não nos falta mais. Então procuramos por outros objetos de desejo. "Na medida que o desejo é falta, a felicidade é perdida". Segundo George Bernard Shaw, "há duas catástrofes na existência: a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando são".

O autor chama de "armadilhas da esperança", porque quando esperamos a felicidade e ela não é satisfeita, sofremos e nos frustramos. Quando é satisfeita, nos entediamos e nos frustramos também. Para escapar deste ciclo o Sponville sugere três estratégias: se divertir para esquecer, alimentar novas esperanças (fuga pra frente) e depositar esperanças em outra vida (salto religioso). Apesar da sugestão, acha as alternativas insuficientes. Entretanto, Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre, ao falarem dessa felicidade esperada, se esqueceram ou subestimaram o prazer e a alegria. Prazer e alegria existem quando desejamos o que fazemos, o que é, o que não falta, Sponville define isso como felicidade em ato.

Além disso, para ele, Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre esqueceram também de separar o desejo da esperança. Para ele é possível desejar o que não falta, mas não é possível esperar o que não falta. Diferencia a esperança em três tipos: a platônica, relativa à falta, onde esperar é desejar sem gozar; a que se refere à ignorância a partir do desejo, onde esperar é desejar sem saber, afinal, nunca esperamos o que sabemos; e aquela que é um desejo cuja satisfação não depende de nós, onde esperar é desejar sem poder. Para desejar o gozando, temos o prazer. Para desejar sabendo, temos o conhecimento. Para desejar podendo, temos a ação.

A esperança é um desejo que não depende de nós, enquanto a vontade é um desejo que depende de nós. Não há esperança sem temor, nem temor sem esperança. O contrário de esperar é saber, poder e gozar. "Só esperamos o que não é; só gostamos do que é". O autor propõe uma felicidade desesperadamente. Mas que não seja o desespero do suicida, mas simplesmente uma felicidade sem esperar.

Para Spinoza o sábio não tem temor, logo, não tem esperança. O autor recusa o amor conceituado por Platão como "desejo do que falta", para dar suporte à definição spinozana, que trata o amor por potência, alegria. Sugere que as pessoas não amputem suas esperanças, mas que aprendam a pensar, querer mais e amar melhor.

A felicidade não é absoluta, mas um processo."

9 comentários:

Renata de Aragão Lopes disse...

Guria, você tem lido muito! rs
Que bom: ficamos sempre com uma ou outra "migalha" sua! Obrigada pelas reflexões propostas.
Um beijo e boa sexta-feira!

Luciane Slomka disse...

Oi Re! Não leio nem metade do que eu gostaria. Essa leitura, por exemplo já fiz há tempos mas só agora lembrei que nunca havia falado sobre ele aqui. Fica a dica do melhor dos livros dele: "Bom dia, angústia" Bjão e um lindo fim de semana para ti, aí na tua terrinha boa! :)

Wania disse...

Interessantíssimo este texto. Faz pensar!
Quantos recursos a gente lança mão para ser feliz... ou infeliz.
Dependendo do grau de desejo e satisfação alguns são felizes mais cedo, outros postergam mais esta sensação.
A felicidade, realmente, é um processo...um aprendizado constante!

Bjs e bom fim de semana!

Discipulo do Spinoza disse...

felicidade é o melhor presente que o dinheiro não pode comprar. apesar de divergirem nesse conceito, meu mestre e esse colega dele, platão, concordam comigo numa coisa: idealizar é limitar. e giuseppe peano, que nada tinha a ver com o pato, disse que a ordem dos fatores não altera o produto. então, se tivermos uma desordem nos nossos fatores, um defeito na cronologia, o resultado vai ser bom invariavelmente. a vida é assim, feita de axiomas e teoremas que colocam ou tiram sorrisos e nossos rostos. cabe nós escolher os mais adequados a cada situação e equilibrar a equação.

pensar disse...

Lu,
Que otimo esse teu texto, mas ainda sugiro que exista uma outra condicao: a do nao desejar( e nao eh perto do suicio e sim perto do Nirvana).Ainda vou te explicar direito isso...
Bjs

Carol Passuello disse...

Oi Lú!!!
Faz tempo que tenho acompanhado teu blog, e virei tua super fã! És uma das minhas autoras preferidas agora!
Me inspirei em ti e criei o meu próprio blog, sem intenções literárias, só beberárias e viajárias, entre outras!
Bjs

Luciane Slomka disse...

Opa. Uma visita filosófica por aqui. Ando tentando equilibrar minhas equações diariamente! :)
***
Oi Mari! É, as escolhas são muitas né? haja papo! Bjo!
***
Carolzita! Amei que tu é minha leitora e mais ainda que isso te estimulou a criar teu blog. Já sou tua seguidora. Fiel. Bjo amiga, saudades!!!

Anônimo disse...

Oi Lu, excelente teu texto; conciso e essencial. Vale lembrar uma aforismo de Aristóteles: "Felicidade é ter algo importante a fazer."
Beijo,
Marco

Luciane Slomka disse...

Oi Marco! O texto não é meu mas amo o Sponville e queria compartilhar por aqui! Beijo!