"Segundo o autor, a felicidade interessa a todo mundo, pois cada homem a procura, principalmente os filósofos, que desde o surgimento da filosofia a tinham como objeto de reflexão.
Contudo, os filósofos da segunda metade do século XX deixaram de considerá-la um problema filosófico. André Comte-Sponville resgata a felicidade determinando-na como meta da filosofia e a verdade como a norma da filosofia. Isso porque apesar de buscar a felicidade, o verdadeiro filósofo opta por uma tristeza real a uma felicidade ilusória.
O autor diz que a sabedoria é necessária por dois motivos: porque somos infelizes e porque somos mortais. Quando temos tudo para ser feliz e não somos, é porque nos falta sabedoria. E sabedoria é saber viver, aprender a viver. Sponville cita o desejo, conceituado por Platão como aquilo que nos falta. E ser feliz é ter aquilo que desejamos. Mas no momento que temos o que desejamos, o desejo acaba, pois aquilo já não nos falta mais. Então procuramos por outros objetos de desejo. "Na medida que o desejo é falta, a felicidade é perdida". Segundo George Bernard Shaw, "há duas catástrofes na existência: a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando são".
O autor chama de "armadilhas da esperança", porque quando esperamos a felicidade e ela não é satisfeita, sofremos e nos frustramos. Quando é satisfeita, nos entediamos e nos frustramos também. Para escapar deste ciclo o Sponville sugere três estratégias: se divertir para esquecer, alimentar novas esperanças (fuga pra frente) e depositar esperanças em outra vida (salto religioso). Apesar da sugestão, acha as alternativas insuficientes. Entretanto, Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre, ao falarem dessa felicidade esperada, se esqueceram ou subestimaram o prazer e a alegria. Prazer e alegria existem quando desejamos o que fazemos, o que é, o que não falta, Sponville define isso como felicidade em ato.
Além disso, para ele, Platão, Pascal, Schopenhauer e Sartre esqueceram também de separar o desejo da esperança. Para ele é possível desejar o que não falta, mas não é possível esperar o que não falta. Diferencia a esperança em três tipos: a platônica, relativa à falta, onde esperar é desejar sem gozar; a que se refere à ignorância a partir do desejo, onde esperar é desejar sem saber, afinal, nunca esperamos o que sabemos; e aquela que é um desejo cuja satisfação não depende de nós, onde esperar é desejar sem poder. Para desejar o gozando, temos o prazer. Para desejar sabendo, temos o conhecimento. Para desejar podendo, temos a ação.
A esperança é um desejo que não depende de nós, enquanto a vontade é um desejo que depende de nós. Não há esperança sem temor, nem temor sem esperança. O contrário de esperar é saber, poder e gozar. "Só esperamos o que não é; só gostamos do que é". O autor propõe uma felicidade desesperadamente. Mas que não seja o desespero do suicida, mas simplesmente uma felicidade sem esperar.
Para Spinoza o sábio não tem temor, logo, não tem esperança. O autor recusa o amor conceituado por Platão como "desejo do que falta", para dar suporte à definição spinozana, que trata o amor por potência, alegria. Sugere que as pessoas não amputem suas esperanças, mas que aprendam a pensar, querer mais e amar melhor.
A felicidade não é absoluta, mas um processo."
9 comentários:
Guria, você tem lido muito! rs
Que bom: ficamos sempre com uma ou outra "migalha" sua! Obrigada pelas reflexões propostas.
Um beijo e boa sexta-feira!
Oi Re! Não leio nem metade do que eu gostaria. Essa leitura, por exemplo já fiz há tempos mas só agora lembrei que nunca havia falado sobre ele aqui. Fica a dica do melhor dos livros dele: "Bom dia, angústia" Bjão e um lindo fim de semana para ti, aí na tua terrinha boa! :)
Interessantíssimo este texto. Faz pensar!
Quantos recursos a gente lança mão para ser feliz... ou infeliz.
Dependendo do grau de desejo e satisfação alguns são felizes mais cedo, outros postergam mais esta sensação.
A felicidade, realmente, é um processo...um aprendizado constante!
Bjs e bom fim de semana!
felicidade é o melhor presente que o dinheiro não pode comprar. apesar de divergirem nesse conceito, meu mestre e esse colega dele, platão, concordam comigo numa coisa: idealizar é limitar. e giuseppe peano, que nada tinha a ver com o pato, disse que a ordem dos fatores não altera o produto. então, se tivermos uma desordem nos nossos fatores, um defeito na cronologia, o resultado vai ser bom invariavelmente. a vida é assim, feita de axiomas e teoremas que colocam ou tiram sorrisos e nossos rostos. cabe nós escolher os mais adequados a cada situação e equilibrar a equação.
Lu,
Que otimo esse teu texto, mas ainda sugiro que exista uma outra condicao: a do nao desejar( e nao eh perto do suicio e sim perto do Nirvana).Ainda vou te explicar direito isso...
Bjs
Oi Lú!!!
Faz tempo que tenho acompanhado teu blog, e virei tua super fã! És uma das minhas autoras preferidas agora!
Me inspirei em ti e criei o meu próprio blog, sem intenções literárias, só beberárias e viajárias, entre outras!
Bjs
Opa. Uma visita filosófica por aqui. Ando tentando equilibrar minhas equações diariamente! :)
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Oi Mari! É, as escolhas são muitas né? haja papo! Bjo!
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Carolzita! Amei que tu é minha leitora e mais ainda que isso te estimulou a criar teu blog. Já sou tua seguidora. Fiel. Bjo amiga, saudades!!!
Oi Lu, excelente teu texto; conciso e essencial. Vale lembrar uma aforismo de Aristóteles: "Felicidade é ter algo importante a fazer."
Beijo,
Marco
Oi Marco! O texto não é meu mas amo o Sponville e queria compartilhar por aqui! Beijo!
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