quarta-feira, 28 de abril de 2010

Secando ao sol

Minhas verdades chegaram como enxurradas
E agora todos parecem ter medo de enchentes.

Parei de usar guarda-chuvas ou capas impermeáveis
Porque agora sou fluída, permeável e vulnerável,
Justamente para ser mais forte e poder ver o sol.

Mas achei que quando eu estivesse encharcada
Eu veria que todos sempre assim estiveram
E eu é quem tardei a enxergar tempestades.

Errei

Vejo pessoas rachadas, porque secaram
Temerosas de suas tormentas, como eu ja fui.

E eu agora ensopada, pingando,
entre água e lágrimas,
Me pergunto por que resolvi pensar.

Dias assim me doem tanto,...
Porque água purifica mas traz peso,

Então não hei de me afogar
Esperando que a chuva molhe a todos.

Eu me abraço em quem me importa,
Em quem souber dançar e secar ao sol.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Resiliência : O capítulo final

Como é boa a sensação de se conquistar algo.

Como é boa a sensação de se superar e conquistar algo do qual se esteve tão próximo de desistir.

Se tem algo que eu posso concluir hoje, com a minha dissertação de mestrado encerrada, entregue e oficialmente aprovada, é que EU SOU RESILIENTE. Eu posso fazer as coisas que eu desejo e conquistar o que eu mereço. E ninguém foi lá e escreveu as coisas por mim, ninguém podia fazer isso. Era uma tarefa minha e eu fui lá e fiz. Com as dificuldades do caminho, com o assalto, com as más surpresas da vida, com o que teve que acontecer.

Agora eu sou mestre em Medicina e Ciências da Saúde. E apesar desse título ser importante, sei que estou longe de ser realmente mestre de alguma coisa. Estou começando a ser, cada vez mais, mestre de mim. E esse título sim, é o mais importante da minha vida.

terça-feira, 20 de abril de 2010

As melhores pessoas do mundo

Desde o momento em que eu deixei a sala de cinema no domingo, onde eu assisti ao filme "As melhores coisas do mundo", venho tentando elaborar algum texto bacana ou pelo menos original, que expresse a minha percepção sobre esse filme e que possa traduzir o que ele despertou em mim. Hoje é terça feira e decidi escrever o que me vier à mente mesmo, porque não é possível elaborar nada mais complexo sobre um filme simples. Na melhor conotação que esse termo pode ter.

É um filme sobre adolescer e adoecer.

Um filme sobre o momento em que a gente descobre que a nossa família -e nessas horas a gente sempre acha que é SÓ a nossa família - é muito mais complicada do que imaginávamos, que as verdades que a gente tinha como absolutas são hipocrisias e que as pessoas que a gente confia não são tantas assim. E que as pessoas mudam. E a gente também.

Não tenho muitas compreensões maiores ou mais profundas sobre o filme. Só quero dizer que me tocou muito, que achei os personagens extremamente reais, os diálogos honestos e simples e a costura da história super bem feitinha. Me choquei com a "denúncia" do filme sobre o uso abusivo e indiscriminado de celulares, sms's, torpedos, i-pods e o escambau na escola, no meio das aulas. Fiquei pensando como seriam as aulas e as relações no "meu tempo", quando nem sonhávamos que celulares exisitiriam...

Mas, à parte desse papo, acho que o mais bonito que ficou em mim desse filme é que no fundo, somos todos, ainda, e por sorte para sempre, um bando de adolescentes, tentando afirmar nossa identidade, tentando descobrir quem gosta da gente de verdade, quem estará do nosso lado nos momentos difíceis, se afiliando a grupos, se separando, chorando, aprendendo a tocar violão, morrendo e renascendo diferentes a cada dia.

E eu, na minha adolescência, que nunca tinha pensado em fazer uma lista das melhores coisas do mundo a cada semana, fiquei com vontade de fazer a minha. E bem feliz em pensar que elas, assim como no filme, podem mudar completamente, e sempre.

Mas eu disse a lista das melhores COISAS, porque as melhores PESSOAS do mundo dificilmente mudam. Ainda bem.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ontem eu pulei do viaduto

Ontem eu pulei do viaduto. Pulei de bico. Me atirei porque quis morrer. Sem essa idéia romântica de depressão ou de desajuste na sociedade. Eu queria simplesmente morrer porque estava cansado. Cansado de ter que estar sempre fazendo escolhas, cansado de ter que pensar, cansado de ter que me relacionar com as pessoas e tentar entender como me movimentar nessa engrenagem delicada que é o outro.

Ontem eu pulei do viaduto. O nome dele é Viaduto Otávio Rocha. Nao escolhi nenhuma roupa especial para o salto. Nunca planejei morrer em grande estilo porque nunca achei que alguém se importasse de verdade. Pulei e tive um traumatismo craniano, fraturei três costelas, uma das quais perfurou o meu pulmão e também quebrei a clavícula. Isso torna minha respiração dificil hoje.

Ontem eu pulei do viaduto e percebi que várias pessoas se aglomeraram à minha volta. Não sei se por piedade, por curiosidade, por ver como fica alguém que chega a esse ponto em sua vida. Mas pensei em quem não tentou me impedir de pular. E como não conseguiu mais tentar e porque não conseguiu mais tentar. Ninguém jamais poderia ter me impedido de pular. Não se eu realmente quisesse. Então eu não poderia esperar que alguém me freasse. E eu pulei porque ninguem me freou. Mas acho que no fundo eu nunca quis pular. Eu queria saber se alguem se importava o suficiente para se esforçar em me frear.

Ontem eu pulei do viaduto criando essa história fantasiosa sobre um cara que quer se matar se atirando de um viaduto. Porque sim, viver é complicado. Porque sim, decisões envolvem responsabilidade. Porque sim, a gente perde pessoas e momentos da vida por imaturidade ou por falta de capacidade de compreensão. Porque sim, eu quis criar uma realidade onde eu cometia o suicídio. Não sei o quanto há de covardia ou de coragem nesse ato. O fato é que ontem foi meu aniversário e eu pulei do viaduto da Borges em pensamento. Cometi outros suicídios ao longo da vida, tenham certeza. Dos mais lentos e amargos aos mais inocentes.

Ontem foi meu aniversário e eu, fantasiosamente, nasci de novo. E então pensei na pessoa que eu gostaria que pudesse ter me impedido de saltar. Todo mundo precisa ter essa pessoa, mesmo não sendo ela a responsável por impedir qualquer ato que a gente opte em fazer. Porque não é ela quem te impede de saltar. É porque é ela quem te faz querer ter os pés bem aqui no chão.