quinta-feira, 30 de abril de 2009

Carta a ninguem


Quero te dizer que eu mal te conheço, que não sei se existes em outro lugar além de dentro de mim. Mas minha pele te percebe e deseja falar-te. Quero que saibas que o tempo vem passando rápido por aqui. Sinto tua falta. O vento do outono já sopra macio e meus arrepios diante do ar gelado que chega me lembram de mim.

Estou um pouco cansada, mas ainda assim percebo que nunca perco o entusiasmo. Sempre tenho esse desejo de crescer, mesmo sem saber até onde ou para que lado cresco. Machuco minhas estruturas quando me forço. Mas sigo.

Ainda persistem os beijos não dados, os afagos negados e um desejo de ser mais. Leio poesia para alimentar uma sede sem nome. Escrevo textos para lembrar alguma lição que se perdeu. E ainda assim nada nunca parece ser o suficiente. E por vezes tudo é somente excesso.

Amadureço minhas penas e ainda sou tão verde...

Quero te ver sorrindo, te ver correndo e cantando a nossa canção. Quero te ver chegando alegre, sem pressa e sem medo. Quero te ver chegando trazendo a parte que falta. Procuro meus vazios e sei que tem alimentos que não vem de mim. Mas não passo fome. Sou nutrida pela minha ternura.

Só sei que a trilha sonora da minha vida tem sido pintada com cuidado, escolhida a dedo. Um pouco impulsuva, um pouco medrosa, um pouco ousada. Minhas cores não me saciam ainda. Estou no meu caminho.

Quero que quando chegues saibas disso tudo e me traga teu cardápio, tua ansiedade e tua fome.

Ainda bem que não tens nome, porque és só oportunidade, és espaço, és o novo. Mesmo eu já te conhecendo há tanto tempo.

Venha sem medo e chegue para ficar.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Beleza Roubada

A beleza desse filme roubou algumas horas do meu sono ontem à noite, mas valeu a pena. Havia visto somente uma vez, quando foi lançado. Eu era apenas uma adolescente na época, assim como a protagonista, Liv Tyler.

Ontem vi com meus olhos de 30.

E que filme lindo, suave e profundo. Fala de encontrar-se, de esculpir-se.

A trilha sonora então, é uma obra-prima. Para mim, divide o título de melhor trilha sonora com a de outra grande criação: The Big Blue. Se bem que tem tantas outras: Blade runner, City of Angels, Leaving Las Vegas, O carteiro e o poeta, o Piano, Grand Canyon... Aliás o tema "Trilhas sonoras" merece um post exclusivo.

Dormi bem.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Longe de mim

Relendo meus poemas e posts até aqui enxergo tudo muito bonito. Os momentos bons e até os momentos ruins. Minhas criações poéticas e literárias.
Hoje à noite cansei da poesia. Cansei de versos. Cansei. Eu me revelo, me interpreto, descompreendo e não sou compreendida. Nem quando sou só poeta.
Por isso quero parar de poetisar por um momento. Nada parece poético essa noite. Nada parece real.
Estou longe de mim.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Restos

Restou esse gosto do teu cigarro na lembrança
e ainda assim é a falta dele que me amarga

Porque tu me encontrou e eu me perdi.

Restou a saudade das fotografias
e ainda assim não espero que outro me revele

Porque eu te perdi para me encontrar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Viva la Vida!


Vai até parecer bobo ou então um clichê dos mais básicos, mas porque hoje é sexta-feira e porque em alguns momentos do meu trabalho eu tenho essa forte e real sensação de que a vida está sempre por um fio, eu digo para quem aqui passa:

Viva a vida, sorria, não torne pequenas dificuldades diárias em problemas da vida. São apenas obstaculos pequenos. Não são nada.

Valorize que você está aqui, agora, nesse momento, lendo esse post com ar nos pulmões, com saúde, com uma perspectiva de futuro pela frente. Lembre que isso é o valor mais precioso da vida e que o resto é bobagem.

Lembre que vem um fim de semana por aí e você pode sair, se divertir, rir, ter autonomia, dirigir ou não, dançar ou não, beijar ou não, chorar ou não.

Lembre que estar vivo e ter saúde é uma benção. Mesmo. Eu vou tentar não esquecer disso também. Esse é meu compromisso comigo e com meu futuro.

Bom fim de semana a todos!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Game Over

Assim, com 20 minutos de antecedência, recebo um e-mail avisando que meu free trial do Last.fm estava por acabar.

E acabou de acabar. Assim. No meio da música. Agora basta eu me inscrever e, obviamente, pagar.

Desde maio de 2007 eu era adepta desse espaço musical, onde descobri várias músicas e artistas que eu até então desconhecia. Era quase como se ali estivesse estampada a minha identidade musical. E quem me conhece sabe que minha identidade musical é praticamente o resumo do que eu sou.

Esse definitivamente não era o momento de fazerem isso comigo. Tudo que é parte da minha identidade parece estar ficando distante de mim. Seja por escolha minha ou por escolha alheia. Tudo bem, é só um site musical, mas sabem como é: TPM, outono, poesia, música... A gente fica sensível.

Então eu estou de luto: pelos lasts, pelos firsts, pelo que nem aconteceu, pelo que eu não queria que tivesse acontecido, pelo que eu vejo estando cada vez mais longe de acontecer... Estou assim, (en)Lu(tando).

Para quem ainda não conhece, recomendo:
Mas cuidado: vicia.

vazios


Hoje eu acordei sentindo um vazio e não sei exatamente o por que.
Até sei, mas tô cansada demais para tentar explicar a mim mesma.
Parece que preciso sair correndo e gritar bem alto.
Parece que preciso chorar um rio de lágrimas até adormecer de cansaço.
Parece que as coisas estão como estão e fogem do meu controle.
Parece que tudo o que eu preciso é um abraço forte. Talvez meu mesmo.
Parece que esse não é um bom dia.
Mas olha só, ao menos hoje o dia está com uma completa cara de segunda-feira e já é quarta.
Porque ao menos alguma coisa boa eu sempre preciso lembrar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O 100° post é do Caio

Porque ele resume tudo que eu venho tentando dizer nessas 100 oportunidades que se passaram desde que esse canto existe...

***
ALENTO
Quando nada mais houver,
eu me erguerei cantando,
saudando a vida
com meu corpo de cavalo jovem.
E numa louca corrida
entregarei meu ser ao ser do Tempo
e a minha voz à doce voz do vento.
Despojado do que já não há
solto no vazio do que ainda não veio,
minha boca cantará
cantos de alívio pelo que se foi,
cantos de espera pelo que há de vir.

Caio Fernando Abreu

Um poema sem amanhãs


Hoje eu queria fazer um poema sobre a tua voz
Expressar em palavras o doce som
que sai da tua garganta engasgada de mim

Queria que a folha soubesse da tua pele
E sentisse como suave ela me encosta
Quão suave ela arrepia diante do que é belo

Queria que a poesia emprestasse palavras
aos teus olhos que me inundam
E eu fosse para sempre tua musa

Queria fazer rimas sobre o cheiro do café
e o gosto do queijo derretido
Um poema gelado como agua de coco no verão

Um poema bem assim,
como a vida ao teu lado é:
cheia de pequenas epifanias

Queria um poema sem esperas.
Hoje eu desejo apenas
um poema sem amanhãs.

***

domingo, 19 de abril de 2009

Freeway

Frases feitas, regras de conduta, jeitos certos de agir para cada situação. Isso não existe. Só o trânsito tem regras tão definidas. Limite de velocidade, multas, leis estabelecidas a serem respeitadas. Na vida real, não há pardais, não há avisos de “proibido estacionar” e nem guinchos. Cada carro segue na velocidade que deseja ou que pode. E corre. Ou estaciona.

É incrível a preocupação que temos em agir “certo”. A atitude certa com o cara que a recém conhecemos. A atitude certa no ambiente de trabalho. A atitude certa na educação dos filhos. Como falar sem se expor, como falar sem se mostrar disponível demais, como calar sem parecer distante demais.

E como isso acontece. Não temos um manual de instruções de convivência, e quem diz que sabe como agir em todas as situações certamente esta mentindo. Assim como quem diz que nunca tomou a atitude errada nas horas mais erradas também.

Esse fim de semana eu ouvi muito isso de diferentes amigas: “Por que fui fazer isso?” “Por que liguei?” “Por que mandei a mensagem?” “Por que não fiz nada?” “Por que não mostrei interesse?” E isso não é restrito às relações amorosas, mas a todas as relações em geral.

E como tomamos atitudes erradas, como a gente erra. E ainda assim, como nos punimos e nos castigamos... Porque é difícil mesmo achar o tal do equilíbrio, se é que ele existe mesmo. Tudo o que sei é que realmente não existem regras nem a maneira certa de agir em todas as situações. Pessoas são imprevisíveis.

Me exponho ou me recolho? Ligo ou não ligo? Apareço ou não? Respondo ou não? Proponho tal negócio ou não? Mostro a minha idéia ou não? Sempre dúvidas baseadas na reação que a gente acredita que vai provocar no outro com as nossas atitudes. Mas a verdade é que jamais vamos controlar a reação do outro. É muita pretensão pensar que podemos controlar isso. Para duas pessoas diferentes a mesma atitude ou frase pode ser interpretada das maneiras mais absurdamente diferentes, dependendo das experiências de cada um, da historia de cada um...

A questão é tomar a atitude que EU sinto vontade de tomar, porque daí eu não vou errar nunca. Pode ser que eu provoque um sentimento ruim no outro, que o outro se afaste. Ainda assim, eu não errei. Porque fiz o que eu senti que era o certo naquele momento. Claro, desde que ponderado e refletido, o mínimo possível. Assim fica bem mais simples se perdoar caso as coisas dêem errado. Porque uma hora ou outra elas dão mesmo. E não há o menor problema nisso.

Mas não há como antecipar o futuro. O segredo então é seguir fazendo escolhas baseadas em nossa vontade, em nossa intuição, em nossas experiências e seguir torcendo pelo melhor.


Siga livre na via, procure seu próprio limite de velocidade. Estacione onde quiser e quando precisar. Você só termina a viagem quando o motor cansar. Mas até lá, gasolina e manutenção estão sempre por perto. Basta saber procurar e ficar atento aos períodos de revisão.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A vida como ela é X Sucesso é ser feliz


"Porque a vida é Nelson Rodrigues. Não é Roberto Shinyashiki"

Ganhei o dia ouvindo essa.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Vi(ver) para Crer

Eu confesso. Tem dias em que eu não consigo Crer para Ver.

Tem dias em que eu preciso mais é ver para crer mesmo. Sentir para crer. Viver para crer.

Aliás, tem dias em que crer em qualquer coisa é dificil.

Mas segue o baile.

Porque eu simplesmente (quase sempre) não canso de acreditar na vida.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Onde te leio?

A pergunta foi da minha amiga Nádia para uma outra amiga. Mas quando li essa frase fiquei pensando nisso... Nas leituras que fazemos do outro e como e onde os outros nos lêem. Onde é que o outro se mostra?

Por que será que certas pessoas conseguem acessar nosso manual de instruções com uma agilidade e sensibilidade que nós mesmos não conseguimos? E ao mesmo tempo, sei que existem pessoas que podem ser as mais fechadas ou encapsuladas, mas que por alguma razão ficam transparentes aos nossos olhos e vamos muito além do que elas imaginam mostrar.

Será que amar de verdade alguém faz isso? Será que querer ser enxergada e percebida pelo amor faz isso?

Eu não sei o quanto de mim fica visível ou o quanto de mim pouquíssimos já perceberam. Gostaria de me saber mais legível. Acho que às vezes posso ser um livro de mais de mil páginas em Javanês. Outras vezes acordo para o mundo em braile. Mas há dias que sou um folheto de propaganda distribuído em sinaleiras, exposta a quaisquer par de olhos minimamente atentos. Óbvia e ululante. Mas no fundo, bem no fundo, mesmo nesses dias tão evidentes, não sou fácil de se ler, eu bem sei.

Mas o que eu também sei é que há leitores bons por aí. E a primeira de todas vem sendo eu mesma. Aliás, não estou para ser best-seller mesmo. Curto muito mais me perceber como um lindo e bom livro de sebo, ali escondidinho no balaio do fim de semana, que só poucos e bons conseguem encontrar e ler por completo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Paciência

.:.
"Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara, tão rara..."

.:.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Esponja

Superstição, mandinga, simpatia. Tudo o que eu sei é que a gente precisa de muito ferrolho nessa vida.

Uma amiga, há muito tempo, me ensinou que a gente poderia “bloquear” a energia pesada do outro colocando o dedão na palma da mão e fechando os outros 4 dedos por cima. Como uma mão tatu-bola. Dizia ela que assim rompia-se uma corrente de fluidos de energia (?) e que a gente conseguiria se proteger melhor.

Não sei o quanto disso é verdade. E sinceramente sou bem cética quanto a essas coisas de “energia”. Mas se tem uma que eu sei é: como é difícil quando nos percebemos sendo tão esponja das pessoas em determinados momentos. Eu escolhi essa área de trabalho, tudo bem, mas ainda nela existem fases em que estamos mais suscetíveis ao outro, mais vulneráveis.

Hoje eu estou assim. Fluída e perigosamente vulnerável como o vento. As palavras dos outros vem até o meu dicionário e lutam para apagar outras palavras que eu há tanto tempo venho lutando para escrever. Não quero mais palavras alheias além das dos meus poetas preferidos.

Até porque eu venho percebendo o quanto existe fragilidade emocional e psíquica ao meu redor. E como isso é subestimado atualmente. As pessoas são vítimas de seu inconsciente, sabotam seus ideais e dividem esses problemas com uma naturalidade de que “a vida é assim” que me perturba.

Não, a vida não é assim. Nós podemos ser assim. Mas podemos não ser também. Basta escolher e lidar com a luta que é fazer essa escolha. Hoje estou vendo isso e sei que só consigo enxergar minha vulnerabilidade a essas palavras porque elas já não me pertencem mais. E claro que existe um medo de voltar a elas, uma tentação perigosa. Mas não preciso usar técnica nenhuma de bater na madeira, fechar a mão ou ter frases prontas.

Minha alma está fechada. Só está aberta para o além-de-mim e para meus sonhos. O resto, podem pirar, podem surtar, porque nada vai me tirar do meu caminho.

Estou esponja mas sei quando ficar longe do que não quero absorver.

domingo, 12 de abril de 2009

It's a long way to the top (If you wanna Rock n'roll)

Eu adoro AC/DC. Só descobri isso ontem. Mas descobri ainda mais que sair do lugar é o que traz essa sensação de algo estranhamente conhecido.

Não sou muito chegada a festas mais intensas ou principalmente eventos de última hora. Mas quero quebrar essa mania monótona de sempre saber onde vou com antecedência de mim. Quero me perder no improviso. Não quero mais somente a primeira hora. Ainda bem que tenho uma amiga que em sua pequena grandeza me dá esse privilégio. De vislumbrar universos que não são os meus, ou pelo menos universos os quais nunca me aventurei antes.

Então ontem, depois de um feriado levemente depressivo, na cidade, meio sem rumo, decidi junto com essa pequena grande parceira ir para a praia de Imbé assistir a um show de rock de uns amigos dela. Saímos as 21:30 daqui e pegamos a estrada. Delícia dirigir na freeway à noite, no meio de um feriadão, meio com medo, meio assim no impulso, hora completamente adolescentes ouvindo Like a Prayer, rindo, hora completamente adultas e profundas, falando de assuntos complexos e aprendendo a perder e a escolher.

Chegamos na praia.
E eu saí do meu litoral.

Muito legal ver como existem mesmo as tais tribos. A galera daquele lugar era totalmente Rock n'Roll. Não que eu não goste, pelo contrário. Mas me julgo mais pop do que rock, mais samba do que rock, mais mpb do que rock.

Quando a banda começou a tocar rolou uma euforia geral. Eu ali, assistindo aquela energia, as pessoas gritando a letra das músicas (e eu só conhecia duas). Um excelente show, músicas ótimas, eletrizantes. Vi a banda tocar com gana, curtindo muito estar ali. Saí do meu universo e ouvi uma outra esfera. E uma batida rock n'roll sempre ajuda, quando a do coração anda meio balada triste.

AC/DC agora faz parte da minha biblioteca musical.
Últimas horas fazem parte do meu relógio.
Parceria de amiga faz parte do meu enredo.
Ampliar minha trilha sonora faz parte da minha vida.

"Living easy, living free
Season ticket on a one-way ride
Asking nothing, leave me be
Taking everything in my stride
Don't need reason, don't need rhyme
Ain't nothing I would rather do
Going down, party time
My friends are gonna be there too
I'm on the highway to hell
No stop signs, speed limit
Nobody's gonna slow me down
Like a wheel, gonna spin it
Nobody's gonna mess me round
Hey Satan, payin' my dues
Playing in a rocking band
Hey Momma, look at me
I'm on my way to the promised land
I'm on the highway to hell(Don't stop me)
And I'm going down, all the way down
I'm on the highway to hell"

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Stand by me

Que delícia ser assim ridícula... Estupidamente ingênua a ponto de me expôr ao real assim nua e crua.

Choro feliz porque estou sendo ridícula e patética. Sentimental demais.

Choro feliz porque senti a emoção hoje, junto com minhas colegas de trabalho, pelo bolo de chocolate de páscoa recheado de carinho que ganhamos de nosso paciente. Choramos juntas, confidentes, apaixonadas pela vida.

Choro feliz no abraço forte e envolvente que ofereci a uma pessoa a quem até pouco tempo eu queria tanto que confiasse no meu trabalho mas era eu quem nunca havia dado espaço para isso. Hoje, ela contou comigo e chorou no meu ombro. E eu chorei junto, de verdade.

Choro feliz porque ando insistindo em portas fechadas mas que se fecharam porque eu nunca bati com firmeza e confiança. E agora, mesmo fechadas, só quero tocar a campainha e avisar que eu estou aqui e que eu posso. Só quero anunciar, nem que seja através de um bilhete debaixo da porta, que minha honestidade agora não é mais um exercício ou uma prova. Agora ela é um dever que eu assumi comigo e com as pessoas que eu amo. Se a porta abrir ou não, não depende de mim, mas o recado ridículo, ingênuo e patético foi dado. E fui eu quem falei, com minha voz, com meus olhos.

Eu quero me meter com as pessoas, eu quero chorar junto, eu quero derramar confidências, eu quero rir desgraças, mas eu quero viver junto. Eu quero me expor, me doar, ser digna do amor que eu tenho para dar e do amor que eu quero receber.

Hoje eu sou ridícula. E que sensação maravilhosa. Porque não tenho mais vergonha de mostrar o que eu quero. E mal posso acreditar que estou mesmo conseguindo fazer com quem as pessoas sintam de verdade que podem contar comigo.

Essa é a minha páscoa. Esse é o meu renascimento.

Do esquecimento

Esquecer é lembrar que a saudade já virou a esquina
Para perceber que esqueci preciso lembrar do que um dia fui
Tenho saudades de tantas coisas que esqueci e sinto falta do que ainda me é desconhecido
Anseio pela saudade de mim porque esquecer requer envolvimento
Estar preso às memórias é viver um futuro que jamais existiu
É preciso esquecer para lembrar do que realmente nos é caro
É preciso esquecer para revelar novas fotografias
Mas esquecer não é perder
É guardar o passado para poder abrir o presente do futuro.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A entrevista parte II: O amor mais puro que há


Luciane, como fazes para te suportar?

Ah, essa pergunta eu me faço sempre. E na maioria das vezes não sei exatamente como eu me suporto. Só sei que na medida em que a gente vai ficando mais “analisada” consegue lidar melhor com os próprios fantasmas. Consegue encarar as nossas partes mais feias sem fugir delas ou então sem tentar achar que elas somem pelo simples fato de serem vistas. É um processo demorado. E o grande lance é tolerar que elas existem, que elas estão ali, à espreita. Mas quando a gente já conhece elas, as nossas neuroses, nossos pontos nevrálgicos inconscientes que nos levam a tomar repetidas atitudes que fazem mal aos outros e muito mais a nos mesmos, a gente fica mais alerta. Dá um cansaço enorme, já vou avisando. Eu me canso em minha vigília.. Porque já fiz muita merda... E cansei de me dar desculpas e de pedir desculpas. Não quero mais repetir erros. Errar eu sei que sempre vou de uma maneira ou de outra, mas então que sejam erros novos, erros sadios, erros honestos. Mas lidar com essa tendência de errar, essa tendência de repetir as merdas e poder se aguentar, se olhar e se frear é um exercício constante e que eu confio que pode dar certo.
Por isso eu digo que eu venho me suportando bem. Tenho conseguido. Não sem penar. Não sem pesar. Porque fazer as coisas do jeito antigo parecia mais confortável. Mas eu já estava começando a estragar demais a minha vida. E agora chega. Agora eu começo a sentir que se eu me suportar talvez eu encontre um outro que me suporte também e eu possa aprender a suportar o outro em seus defeitos e sofrimentos. Acho que é mais ou menos isso...

Falas em suportar o outro. Achas que isso é amor?
Ai, não sei. Por que tínhamos que entrar nesse tema? Eu acho que ainda estou descobrindo o que é o amor verdadeiro. Amar alguém não é estar sempre querendo ficar com essa pessoa. É querer ver a pessoa livre, alçando vôos, para voltar ainda mais bela para embelezar o meu mundo. E eu preciso disso, que o outro me alimente de riquezas internas, de devaneios e sonhos. Nunca fui possessiva. Mas admito também que já fui descuidada. E pouco exigente. Tão pouco que isso já foi encarado como despreocupação ou menos valia. Talvez porque eu tenha medo de contar demais com o outro. Talvez porque eu não tenha conseguido compreender que quando sou amada o outro se interessa por mim, se preocupa comigo. Se eu não ligo, se eu digo que fui a algum lugar e fui a outro. Mas a linha é tão tênue que as vezes isso pode ser confundido com controle. E eu acho que durante muito tempo precisava da sensação de ser controlada, muito por meus descontroles internos, e eu suscitava isso no outro. Mas depois isso me dava uma raiva tremenda, óbvio. Mas eu pedi por isso! Não parece maluco? A questão é que esse controle que eu sempre precisei nunca tinha que ser dever de um homem. Não cabe a nenhum parceiro assumir esse papel. Isso é uma construção interna, que só agora venho percebendo e fazendo. Eu é quem preciso me cuidar. E se eu transmitir ao outro que tenho essa capacidade posso ser digna de confiança, porque vou me cuidar muito bem, e conseqüentemente posso cuidar bem de um amor dentro de mim, e não esquece-lo e muito menos maltrata-lo, como já tanto fiz.
É, dói ver que não sou sempre boa. Mas talvez vendo minhas fraquezas e até minha maldade eu possa permanecer verdadeira e leal.

Mas então como saber quando se está amando alguém?
Acho que isso não se sabe. Isso se sente e se admite ou não. Fujo um pouco desse sentir porque as vezes julgo que tenho um “amar” idealizado na minha cabeça. Um companheiro idealizado. E isso não existe. Para mim, que lido com vida e morte diariamente, tenho percebido que amar é quando eu sinto que estaria ao lado dessa pessoa até ela morrer, custe o que custar, ou então que se tudo desse errado e se eu recebesse uma notícia de uma doença fatal, além da minha família nuclear, essa pessoa seria quem eu queria que permanecesse ao meu lado até meu último suspiro. E não poderia ser qualquer um. Tem que ser quem me escute, quem aperte minha mão, me olhe no olho e não sejam nem mais necessárias tantas palavras. Alguém que me leia. Para que seja meu obituário eterno.
A morte traz consigo o amor mais puro que há.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Salada de frutas com sorvete

Hoje de manhã precisei ir ao centro da cidade.

Minha primeira reação foi de desagrado, especialmente pelo fato de saber que eu iria ao centro de carro, o que torna tudo sempre mais dificil. E mais ainda porque eu precisava ir à prefeitura resolver pendências de IPTU. Sim, um saco.

Mas fui. A manhã estava lindíssima. Coloquei meu carro em um daqueles gigantes estacionamentos do centro e fui caminhando até a Prefeitura. Ao contrário do que eu esperava, fiquei impressionada positivamente com a agilidade com a qual fui atendida. No balcão de informações já fui instruída para qual setor deveria me dirigir de acordo com minha necessidade, já empunhando uma senha de atendimento. Cheguei no andar e só havia (milagrosamente) uma pessoa à minha frente. Logo fui chamada. Ar-condicionado, bom atendimento e ainda recebi uma noticia muito melhor do que a que eu imaginava referente ao IPTU em si. Saí me sentindo feliz e fui então celebrar minha boa surpresa quanto ao imposto atrasado que não era tanto, comendo uma salada de frutas com sorvete do Mercado Público.

Foi nesse trajeto, da Prefeitura ao Mercado, com o sol lindo dessa manhã de início de outono, que fiquei feliz em ver como Porto Alegre é bonita, como nosso Mercado Público é bonito, como nossa gente é bonita. Fiquei vendo os caminhões chegando com peixe fresco para a venda no mercado, aquela gritaria alegre, aquela confusão deliciosa de uma cidade, e eu ali espectadora dessa feira livre de humanidade. Aliás, como é bom poder andar a pé pelo centro para observar essas pequenas grandezas. Estava com saudades disso. Cheguei feliz ao estacionamento, peguei meu carro e fui trabalhar satisfeita.

Sei lá, senti uma alegria de ser gaúcha, de ver Porto Alegre assim Alegre. Adoro quando consigo ver minha cidade de sempre com olhos de como nunca. Como se eu fosse uma turista.

Ah, e a salada de frutas com sorvete de creme continua a mesma. Imbatível.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ah, essas segundas feiras poéticas...

Brancas paredes

Solidão em família no ano novo

A verdade que tu merecias. Bobagens para agradar.

Todos os meus devaneios moram nos felinos.

Minhas roupas que tem o nosso cheiro.

Soltando a língua das chaminés.

Desespero quando perco o que sempre tentei achar.

Deus não avisa quando machuca.

Tu és uma pessoa rara.

Meus ombros caídos

O sal fica escondido no lodo.

Sempre usei a crueldade quando o outro menos esperava

Os meus farelos são aproveitados pelas formigas.

O mosquito que picou a pessoa mais inquieta vai penetrar no meu cadáver.

Eu faria tudo igual, mas com mais arrepios.

Um bolo de chocolate só meu.

Mãos fortes e lágrimas.

Queria poder confiar numa mulher.

O fogo é o pai da neve.

Eu dobraria meu corpo para a morte

O silêncio é um roubo para mim

A brisa é violenta porque te leva constantemente de mim

Sempre pedi perdão mais do que devia e quando não merecia e por isso perdi meu direito de ser perdoada de verdade, agora que o mereço.

Laranjas não se apagam. Amargam.

Ingenuidade ignorante é maldade com bondade.

Sorrir com os olhos é o diálogo perfeito.

Na parte superior do guarda roupas eu escondo o mais profundo dos meus invernos.

Merda, esqueci das minhas primeiras quedas para esquecer o sofrer e foi então que aprendi a dar falsos sorrisos.

Mais grave do que pisar em vidro é voar sem ver estrelas.

Mais grave do que pisar em palavras é esquecer de lembrá-las.

A solidão nunca termina, só encontra outras.

O mundo debaixo da mesa é o teto de um planeta inteiro.

Toalha de mesa é o lençol das cadeiras.

Nunca mais encontrei os cristais quebrados da minha avó.

Inferno é o vazio

A espuma é o gozo do mar.

E de repente teu cheiro me assalta.

Abrigo

Preciso de um albergue para os meus sonhos órfãos

sábado, 4 de abril de 2009

Cara a Cara


Luciane entrevista Luciane

Aparentemente sempre gentil e doce. Onde achas que depositas tua agressão?
Sou agressiva na minha docilidade. Acho que é aí que consigo ser ainda mais cruel quando preciso. E sei que isso desnorteia quem convive comigo. Acho que o pior golpe é aquele silencioso, que vem disfarçado. Venho me esforçando para ser declaradamente má quando necessário, para que as pessoas saibam o que sinto de verdade.

Mas como saber quando é necessário?
Quando meu corpo grita. Tenho me esforçado para tentar escutá-lo. Tentar sentir quando minha palpitação sobe, quando a ira chega, e poder declará-la na hora, a quem merece, ao invés de deslocá-la contra mim mesma e contra quem me quer bem. Porque sei que ao final do dia a derrotada sou eu pela minha própria agressão. Vou saber que é necessário quando meu corpo latejar e as veias pulsarem de um jeito diferente. Então tento aliviar essa pressão antes que vire enxaqueca, um mal que sempre me afligiu mas que tenho conseguido superar.

Sempre diz que ama escrever, que sonha em publicar um livro. Falta coragem?
Por incrível que pareça, acho que falta humildade. Eu tenho tantas idéias, acho o trabalho que eu faço tão rico de significantes, de material que eu poderia aproveitar, que parece que só poderia publicar algo se fosse brilhante, se emocionasse as pessoas. Na verdade é uma mega onipotência da minha parte, eu reconheço. Mas como eu duvido que conseguiria isso, essa grandeza literária, eu me calo. Eu espero. Por trás da minha aparente humildade sei que mora uma grande egocêntrica. E tenho vergonha dela.

Vergonha por que?
Porque acho feio a vaidade. E sei que não devia. Sei que ela é vital, e tenho exercitado isso. Mas ainda estou longe de lidar bem com esse meu lado. Tenho 1,80m e me encolho em festas. Faltam omoplatas e trapézios para fora. Meu circo fica todo encolhido. Sei que tento parecer mais uma quando no fundo quero ser o centro. É complicado. Só comecei a usar salto alto no ano passado. É uma questão de aceitar quem sou. Aceitar o meu tamanho. Tentar me afirmar. Minha altura até agora não tinha encontrado minha estatura. Agora preciso assumir que sou grande. Preciso lidar com a grandeza e a pequeneza de mim mesma.

Qual é o teu sonho? E o que está faltando para chegares lá?
Meu sonho não é um lugar concreto. São conquistas. São sensações que quero adquirir e outras que não quero perder jamais. Uma delas é a de ter um filho. Mas antes disso é preciso ter uma família. Acredito que um casal pode ser uma família antes mesmo dos filhos chegarem. Eu ainda acredito na família. Não aquele conceito decrépito da instituição família, moral e coisa tal. Me refiro ao sentimento família.
Sonho seguir trabalhando na minha área e escrever um livro sobre minha vivências. Ainda não sei que tipo de livro será. Se serão histórias, ficção, romance, poesia, ou um livro didático para profissionais da minha área. E, lógico, sonho com uma estabilidade financeira que me permita desfrutar de uma vida tranquila, poder viajar, comer boas comidas, viver aventuras novas. Mesmo que seja no mesmo lugar.
Mas o meu maior sonho mesmo, que é a base para todos os outros, é que meu corpo me permita viver muitos e muitos anos com saúde, para ainda poder sofrer, tremer, chorar, sorrir, ser feliz até se arrepiar. E tenho consciência de que não tenho esse poder sobre ele. Não governo meu corpo. Nós convivemos bem há 30 anos e eu cuido dele como posso para que ele não me abandone tão cedo.
E quer saber, acho que para chegar lá não falta nada. Eu já estou no caminho. Só preciso seguir acreditando nisso.

Mas será que já aprendestes a lidar com a solidão?
Ainda estou conquistando esse aprendizado. Acho que o maior desafio já não é mais o de lidar com a solidão, mas sim o de desvendar esse mundo todo que carrego dentro de mim. Poder diferenciar quem sou e respeitar isso. Ser minha maior serva.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sempre fui sótão

Sótão é aquele lugar aparentemente escondido da casa, onde se guarda o que não se quer mais, mas também é o local mais cheio de mistérios. O menos óbvio. E por isso mesmo é o menos visitado. Só pelos mais corajosos.
Sempre fui sótão. 
Sempre quis ir "até lá em cima"...no lugar escondido, que ninguém enxerga, lá onde fica o que ninguém quer enxergar. É lá que eu estou, foi com esse sótão que eu decidi trabalhar. Obviamente, é mais fácil espiar o sótão dos outros do que o meu próprio. Acho que sempre me senti meio sótão. E sempre fiquei questionando se as pessoas queriam vir até mim. Se queriam me descobrir. Se tinham curiosidade por mim. Se teriam a coragem de subir as escadas e descobrir o que guardo aqui dentro.
Mas agora percebo que estou gostando do meu sótão. Estou podendo olhar para tudo o que ele escondia e ainda esconde. E estou podendo lidar com tudo o que eu não posso e nem devo enxergar ainda. Porque certos mistérios também não tem que ser sempre desvendados. Afinal, qual seria o atrativo de um sótão se ele fosse limpo e organizado?