sábado, 8 de dezembro de 2012

5 MINUTOS PARA AS 7


Eu desperto antes mesmo do alarme tocar
Sozinha, prestes a ser arremessada à realidade
pelo meu sono leve que não me leva

Uma dor aperta meu peito e impede que eu me mova:
Inacreditável ter que recomeçar 
Impensável suportar esse viver fugaz

Me dói pensar em quem não pensa
Me cansa sentir por quem não sente

Tudo parece estúpido e pastoso
E acordar torna-se uma tarefa vã.
Uma repetição de respirações e aspirações,
fôlegos e suspiros que mensuram uma vida.

Mexo-me, com dificuldade e preguiça,
Tocando em seu corpo quente e liso.
Ele nem parece saber de toda essa minha violenta angustia
Dorme calmo, protegido de mim e de toda essa finitude

O despertador finalmente toca
Eu levanto e me adormeço.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

18 horas e 30 minutos


Ontem sonhei com minha mãe. Sonhei que ela ainda não havia morrido, mas que já estava prestes a partir. Eu estava preocupada em enxergá-la, em saber como estava se sentindo - se tinha medo, se queria falar sobre isso. Em nenhum dos sonhos que já tive com ela nesses 3 meses consigo ter certeza se posso ou não ajuda-la. Não sei se a ajudei quando ela partiu. Fui eu quem estava ao seu lado no momento final. Ela respirava com dificuldade. Cada inspiração era um esforço descomunal. Teimava em permanecer viva. O tempo entre uma respiração e outra foi crescendo e eu percebi o que estava acontecendo. Só pensava nas palavras “Pode ir, mãe. Pode ir, mãe”. E ela foi. E ainda assim não sei se a ajudei. Não sei se conversei com ela o tanto quanto eu gostaria para poder me despedir. Era uma sexta-feira, 18 horas e 30 minutos.

O adeus nunca parece o suficiente. Eu conversei com ela muitas vezes sobre isso, e sei que ela sabia que estava prestes a morrer. Olhando para trás fica difícil não pensar que algo a mais poderia ter sido dito, que algo a mais não deveria ter sido feito. Eu pedi a ela para que, caso houvesse algo além deste mundo, ela me avisasse, que se comunicasse comigo. Até agora o único sinal são os sonhos recorrentes. A Psicologia explica-os como uma forma de elaboração do luto. Eu não quero explicação nenhuma, mas sei que esses sonhos ajudam-me a suportar o nunca mais.  Somos tão fracos, tão despreparados para o não existir. Eu ainda venho aprendendo a conceber essa impossibilidade. Perder a possibilidade da imaginação do reencontro é a pior das saudades. Era uma sexta-feira, 18 horas e 30 minutos.

Nossa relação não era como nos filmes, nem como nas novelas. Houve conflitos, diferenças, brigas e uma luta enorme da minha parte para adquirir minha autonomia emocional, para me descolar de um modelo que não me servia, como uma roupa larga demais que insistimos em usar e faz com que sumamos em meio aos panos todos e percamos nossos contornos. Eu me agradeço por ter feito esse desencaixe emocional antes dela partir. Quando eu estava agachada ao lado dela naquela cama dizendo “Pode ir, mãe. Pode ir”, eu estava dando adeus a Sara, não a Luciane. Era sexta-feira, 18 horas e 30 minutos.

Mas a Luciane que fica sente saudades. Uma saudade que vai se ajustando e transformando com o passar do tempo. Sei que hoje ela ainda é muito física. Parece uma longa viagem das tantas que ela fez ao longo da vida e da qual logo estará de volta. E a realidade confronta-me com um tapa forte na cara, arrasta-me para o prosseguir, nessa vida que muitas vezes arranca-me qualquer sentido maior. E me pego a questionar porque essa vida maluca, porque tudo isso que fazemos, trabalhamos e corremos, dormimos mal e amamos mal. Era sexta-feira, 18 horas e 30 minutos.

Eu gostei dela ter falecido no final da tarde. Tenho uma teoria completamente empírica que pacientes terminais não terminam pela manhã. A grande maioria morre no final de tarde e principalmente à noite. A manhã não pode conter a morte, porque a manhã é esperança, é recomeço, é vida. A manhã é o amanhã, mesmo nos acusando que acaba de ter enterrado o ontem. Manhãs não matariam, jamais. Manhãs podem empurrar, esmagar, sufocar, às vezes, mas jamais matar. Eu amo as manhãs que me empurram, mesmo me perguntando em muitas delas o porquê disso tudo, o porquê do perder, o porquê desse maldito nunca mais que me faz perder a compreensão de tudo que diz fazer sentido.

sábado, 27 de outubro de 2012

Participação na Feira do Livro

Estarei autografando a antologia de crônicas Santa Sede, na qual tenho 9 textos escritos.

Convido a todos a dividirem comigo esse momento importante.

Será no Domingo, 04 de novembro, a partir das 18 horas, no Pavilhão de autógrafos.

ESPERO TODOS LA!

Participação na Rádio Gaúcha

Hoje tive o privilégio de participar do programa Super Sabado, da rádio gaúcha, falando sobre o tema "perdas". Foi uma oportunidade muito rica, para atender ligações de ouvintes que traziam suas perdas e suas dificuldades e meios para enfrentá-las.

A grande verdade é que somos seres limitados, e que temos dificuldade para lidar com nossa finitude. Mas saber aprender com as perdas é a melhor forma de crescer.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

as saudades da minha mãe

São particulas de oxigênio que eu respiro diariamente. são segundos de uma ausência física e principalmente de uma materialidade mental.

Perder a possibilidade da imaginação do reencontro é a pior das saudades.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Levantamentos de necessidades

- Tomar uma taça de vinho à tarde (qualquer tarde)
- Terminar de escrever meu livro que ainda não existe
- Arrumar a minha casa de modo que ela me arrume um pouco também
- Ler um capítulo de um livro diferente por dia
- Estudar Espanhol e Francês ( o primeiro, por necessidade, o segundo, por capricho)
- Fazer as unhas religiosamente uma vez por semana
- Escrever sobre a ausência do meu passado

.............

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Dos dias pétreos


Tem dias em que eu não me respeito: eu praticamente me obedeço
Tem dias em que eu não me reconheço: eu praticamente me desconstruo.
Tem dias em que eu não me surpreendo: eu praticamente crio meu próprio pavor.

São dias em que as construções denunciam meus relevos e falésias. Dias onde a minha arquitetura desaba em rabiscos fracos, quase nulos. Eu sou uma absorção que o vento fez das idéias do mundo, sou uma camada fina de ódios.

E estes não são, por isso, dias menos iluminados ou claros. São simplesmente dias de estar em mim em um descontínuo compasso.

Pois o dia dos finais que não chegam nunca, mas dormem sempre ao meu lado, respiram em minha nuca todas as desverdades que eu jamais ousei pensar.

Pensamento é boca calada e ouvidos rasgados.

Sou cheia de pensamentos vagos espalhado sobre todos os líquidos que o mundo ousa petrificar.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O dia em que o adeus passar por aqui

No dia em que o adeus passar por aqui, digam a ele que não eu quis mais esperar,
que fui embora, que parti para longe, farta desses finais que não se encerram.

Digam a ele que já sofri demais esperando os desfechos, que já aprendi o que precisava sobre o tempo e as escolhas, sobre existir e reviver.

Ele vai chegar manso, com roupas rotas e sujas, vocês vão ver... Porque o adeus adora se perder e é constantemente maltratado por quem não o compreende.

Digam a ele que eu o odeio por nunca ter aparecido para mim enquanto esperei, e que minha revolta é porque eu nunca teria feito a ele nenhum mal. Ao contrário de muita gente, eu prezo o adeus, não o temo e dele não fujo.

Antes um adeus bem recebido do que até logos que nunca terminam.

Eu vou partir, não vou mais esperar. Vou continuando e pausando, até porque sei que esse dia vai chegar: o dia em que o adeus há de voltar.

E no dia em que o adeus passar por aqui, digam a ele que eu disse 
 
Até mais.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A vida repentina

Eu quero meus de repentes de volta, e que tragam consigo surpresas, pequenos sustos eufóricos e fôlegos suspensos. Roubaram-me os repentes, e me deram em troca uma vida previsível, com eventos marcados e necessários para instalarem uma tal de ordem. Não mando em nada, mas também não obedeço.

Vou vivendo o que há e o que dá: toda vida de por enquantos precisa de uma porção dos de repentes

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Infância é dentro (Por Charles Kiefer)


Infância não existe, infância é uma invenção de adulto.

Quando leio sobre a infância de alguém, sempre me pergunto: E como seria a descrição desse passado idílico se quem a tivesse escrito fosse uma criança?

Talvez, para uma criança, o mar não seja tão belo, a praia não seja tão amigável, a noite não seja tão pacífica...

Adulto, percebo agora que não tive essa infância maravilhosa que todos tiveram. Só fui conhecer o mar aos vinte e dois anos. E o que senti foi uma angústia muito grande, aquela água não tinha fim, aquela areia irritava-me, aquele sol torrava a minha pele, produzindo-me grandes febres e dores, atenuadas por pomadas e insônias.

A infância que tive foi atrás de uma enxada, capinando inço nas lavouras de soja dos meus avôs, catando osso para vender no frigorífico, lavando dúzias de roupas por semana para que minha mãe liberasse, a mim e a minha irmã, as entradas da sessão da tarde de domingo no Cine Imperial, no centro de Três de Maio, que hoje deve ser uma loja de produtos da China.

Que infância poderia eu inventar agora?

Na época, nem me dei conta que fazia trabalho infantil, que eu podia estar na praia, besuntado de óleo. Até por que a praia ficava a mais de 600 quilômetros de distância. Mas havia os banhos de rio e de lagoas, as caçadas, as pescarias.

E havia as noites de lua cheia, de calor e de luciérnagas (a Argentina ficava logo ali), quando contávamos, uns aos outros, eu e meus tios, histórias de assombração.

Aquilo, sim, é que era infância, melhor que filme de Harry Potter!

Aquelas noites, povoadas de mulas sem-cabeça, boitatás, lobisomens e outros seres imaginários que nem Jorge Luis Borges foi capaz de imaginar, são o centro disso que, adulto, chamo de infância.

E essa infância, que construo do presente para o passado, que afeito, que mistifico, que atenuo ou exagero, transforma-me em escritor.

Pois, como disse Marcos Accioly: “As pessoas ou são crianças ou são adultos. Ser menino é outra coisa. Menino não é criança nem adulto e, sendo todas as idades, é sem idade. Por fora se conhece a criança ou o adulto. Menino é dentro.”

Parodiando o poeta pernambucano, posso dizer que “infância é dentro”.

E o que é dentro a gente inventa, amplia, modifica, reconstrói, e apaga.

O que houve de ruim na minha infância eu converto em adubo de minha ficção.

O que houve de bom, eu reconto para a Sofia, que teve a sua infância inventada pelos chineses, como diz a Marta.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Alívio em sal



E ela dizia:

"Não há pior saudade do que aquela antecipada, aquela que se planeja ou se espera sentir. E há também o medo de nem sentir. Então o que seria perder? A saudade de uma presença viva dói muito mais do que a ausência porque somos vis em perder-nos. Eu tento despedir-me das minhas autópsias pois elas não podem mais ocupar meus preciosos espaços, e não posso não sentir saudades e nem o vazio porque ele compõe minhas vagas esperanças. Sou das fraquezas conscientes, que me tornam forte. Sou das forças inconsequentes, que me tornam fraca. Sou forte e fraca, amarga e doce, e ainda assim não sei sentir saudades antes da hora porque ela vai me matar. A maturidade traz em sua trilha uma certa raiva da vida, como se fizésse-nos finalmente ceder a ela e aos nossos impulsos por algo maior que a vida nos promete mas parece que nunca cumpre. Não há pior saudade do que tudo que ainda está aí. Não há pior saudade do que a que sinto dessa pessoa que sou hoje e sei que um dia será engolida pelo tempo. Eu luto."

Eu fechei o livro e finalmente consegui chorar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Carta para mim


E não é que o pai tinha razão? Eu realmente achava que seria sempre estranha, sempre desengonçada e que os guris sempre iam rir de ti, mesmo já grande como estás, por tu seres magrela como eu e que nem precisaria usar sutiã, como eu. E aconteceu o que ele disse. Tu ficou bonita, não ficou? Ah, diga que ficou e que tu perdeu essa mania da gente de sempre se achar mais ou menos e não enxergar tua beleza!

Hoje tu estás aí, toda adulta e grande. Psicóloga, como tu sempre sonhou. Estás conseguindo simplesmente "ajudar as pessoas" como eu sempre quis? Espero que não tenhas te tornado uma chata, aquelas psicólogas frescas que ficam enrolando e não falam nada de prático. Estás conseguindo ter tua casa, teu emprego e tua vida como o sonhado? Ok, já vi que a vida de agora não permite que tu tivesse cumprido meu ideal de ter filhos antes dos 30, tudo bem. Mas espero que tu não tenha perdido a certeza que eu sempre tive de que a gente seria uma ótima mãe. Seremos, não?

Eu fico te observando daqui de longe e sei que tu sentes a minha falta, que tu vem aqui quietinha, sem alarde, me espiar um pouco de vez em quando, só para não esquecer como é bom ser criança, né? Pode vir sempre que tu quiser, mas não esquece o quanto tu quis ser adulta, o quanto tu quis chegar onde tu chegou. Sim, obviamente as coisas não estão sendo exatamente como a gente imaginava, né? Fico te olhando daqui e pensando que realmente as pessoas nos confundem, os sentimentos não são mais tão óbvios como a gente pensa. Pessoas se perdem, perdem coisas. Os adultos complicam tanto... Tudo quem sabe pode ser, tudo talvez seja,.... Um saco.

Deixa eu só te dizer: a gente gosta de comer banana com leite puro, a gente gosta de fazer sons engraçados com a boca, a gente gosta de tocar flauta no banheiro porque o eco fica legal. A gente gosta de brincar de secretária e de paquita. Não esquece, tu nunca quis ser a Xuxa.

Agora vai lá que tu tens que trabalhar e eu preciso brincar. A vida é sempre séria e sempre uma piada. A gente não é a Barbie mas pode sempre fantasiar que é. Aliás, vi que tu encontrou o teu Ken, né? Tu nunca vai ser "feliz para sempre" como as nossas Barbies são, mas a tua história é de verdade. Imagina só, talvez tu até já tenha descoberto o que é amor de verdade! E não fica achando que a vida é mais simples para mim só porque ainda sou criança. Dá um trabalho enorme te ser criança, para poderes ser a mulher que tu te tornou.

Um beijo enorme, te cuida e seja o mais feliz que tu puderes...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Cuidado ao chorar

Esse é das lágrimas, o maior mal:
Desaperceber que podem ser feitas
Muito mais de hábito do que de sal.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

poema da pele

Eu tenho braços largos
cheios de saudades infindas
Junto a meus internos pagos
e do que mais tu pintas

Sou poeta do corpo,
de tudo que nele mais habita
Preciso de vácuo e sorrisos,
pois não há em mim o que se repita

Mas cansa estar em minha pele
quando sei que sou só entranhas
porque nunca fiz dele façanhas
e não há nem quem por ele vele

Meu corpo companheiro
Onde sinalizo dor e medo
Faça de minhas unhas teu enredo
dessa pele assim, toda sem roteiro

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Vida espetáculo.


- Eu vivo um paradoxo que me congela: eu tenho medo que a vida cotidiana me roube da escrita, mas minha escrita se alimenta dessa mesma vida.  

- Esse não é um paradoxo, sabe por que? Porque a escrita não se alimenta dessa vida aparente, essa vida domesticada da qual tu achas que extrai tua fonte. A escrita verdadeira germina da vida selvagem, da vida paixão, vida sem regras, vida sem moral.

- Ok, mas eu não consigo viver essa vida. Eu vivo a vida domesticada mesmo!

- Perfeito. Eu também. Porque, na verdade, ninguém suporta viver nessa vida impulso que eu exaltei há pouco. Porque se todos a vivessem ela já não seria clandestina e nem selvagem! Seria vida comum. E ela precisa ser rara e incomum para poder ser sentida como voraz, errante e louca. É preciso viver a vida palco, roteirizada, para ter a vida bastidores, que é a que realmente interessa, que é a que nos faz respirar e escrever. Eu sei que a vida é um espetáculo sem chance para ensaio, mas eu acredito em coxias e em camarins.

- Mas existe mesmo esse lugar?

- Eatamente onde você está. Agora vai, entra em cena.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Descrição de um sonhado encontro


***
Primeiro eu vou sentir um perfume leve e sutil no ar. Não será marcante demais. Afinal, eu nunca quis ser óbvia e muito menos evidente. Custei a descobrir que sou para percepção de poucos.

Em seguida, vou dirigir meu olhar para encontrar esse perfume. Vejo cabelos voando, soltos, cacheados, livres de secadores de cabelo ou chapas de metal, em uma morena que aprendeu a abrir as omoplatas como se fossem asas maleáveis, que aceitam rajadas de vento e até alguns rasgos. Sim, eu não hei de queimar mais os meus cabelos e nem minhas asas.

Vou caminhar até ela, mas a chegada não será tão simples e rápida como um passo após o outro. Finalmente eu vou ter aprendido a não fazer de meu acesso um local tão irrestrito e fluído. Criei minhas senhas pelo caminho e fui deixando pistas a quem se intrigasse por minha cartografia.

Quando eu tocar em seu ombro, ela vai se virar suavemente. Primeiro vai me olhar, com olhos amendoados serenos mas questionadores; serenos mas que denunciarão uma idade da alma que poucos terão chegado e que deixarão claro o quanto foi custosa essa viagem.

Só depois de um tempo longo o suficiente para um olhar que irá chegar carregado de toda prosa do mundo, ela vai me sorrir tranquila, mostrando os dentes com leveza e discrição, e com uma voz calma, segura e poética, me dirá:

"Bem-vinda"

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

...


A vida é uma ilusão coberta de verdades.