sexta-feira, 31 de julho de 2009

Desejos de uma sexta-feira qualquer

Que o infinito traga a possibilidade da inconstância

Que o vento desmanche tudo que é concreto

Que possamos estar certos que certeza não há

Além da vontade de ser mais

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Tu y Jo

Ele notou
Ela sorriu

Ela de cabelos molhados
Ele de ressaca

Ela desentendida
Ele sabendo tudo

Os dois acharam que não.
Escoriações antigas faziam neblina

Ele atraído
Ela assustada

Ele encantado
Ela apaixonada

Eles querendo futuro
E os passados levados embora

E de tantos presentes
Tornaram-se somente deles.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Decantada

Procuro poemas ou canções
Que falem por mim
Que me ilustrem e metaforizem.

Leio Clarices, Caios e Pessoas.
São gênios, mas não me leem toda.
Precisava de algum poeta que dissesse:
"Atenção a todos, essa é a Luciane"
Mas não há.

Eles escrevem coisas lindas, esses letrados.
Palavras escolhidas com esmero, rimas ricas,
sentidos profundos, canções.
Mas não me conhecem de verdade.

Então hoje sou eu a minha poeta.
Escrevo meus não-poemas e digo:

Que a vida tem me sido generosa,
na dose certa de dores e paixões,
temores e ousadias, aventuras e tédios.

Que sou essa tênue lembrança do que já fui,
para não me perder no que venho me tornando.
Esse ser novo, maciço, compacto,
mas também poroso, sedento, aberto.

Que sou dura e flexível, contente e dramática.
E ninguém consegue poetizar quem sou
a não ser eu mesma.

Que sou uma adega de descobertas caladas,
Mas descobri um leitor, um degustador
Um aliado que me saboreia com cuidado,
deixando-me respirar, como faz com um bom vinho.
Me combinando com maestria a seus sabores.

Digo que a minha poesia é assim, sem sentido,
desconjuntada, sem rima nem platéia.
E essa sou apenas eu. Pronta a ser vivida.

Que sou lenta para não perder nada.
Mas veloz para que a trilha não acabe logo.
E ainda há muito a percorrer.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Apego

Já falei aqui sobre vôos, sobre quedas, abandonos e recomeços... Hoje, um dia antes de completar meus 31 anos, penso no desapego. Ou melhor, no apego. Nesses tempos de relações rápidas e frustrações lentas, de descréditos imediatos e insatifações permanentes, parece cada vez mais inédito falar sobre vínculos. Sobre laços e a capacidade de ligação e entrega.

O que é que de fato nos liga a alguém, o que nos conecta, nos faz criar com determinadas pessoas canais que se tornam exclusivos e insubstituiveis?

Esse fim de semana, estando frente à natureza em sua forma mais sublime e natural, me botei a pensar em como somos pequenos diante do mundo, e, paradoxalmente, como nos julgamos deuses. Esse equilíbrio é tênue. Não podemos esquecer que somos apenas mais um, mas ao mesmo tempo precisamos nos sentir únicos, especiais, insubstituíveis. Nesse panorama, muito do que ainda nos define é nosso trabalho. O que eu faço, quem eu sou, do que me fantasio durante a semana "útil"; do que me escondo ou me protejo. Então, quando nos despimos desses papéis, aparece quem realmente somos, as relações que realmente construímos. Nossos vínculos. Você sabe o que sobra quando se despe do que acredita que seja? Você sabe quem está ao seu lado?

Não somos mais os casacos que vestimos, somos o frio.
Não somos mais nossa profissão, somos formados pelo que sonhamos.
Não somos mais acompanhados por quem nos escolhe, mas por quem escolhemos também.
Não somos mais paisagem de uma vida, somos a própria vida.
Não somos mais os papéis determinados, somos pedaços de quem admiramos.

Eu custei a aprender a construir vínculos, a me entregar a eles, a correr o risco de passar o frio para que o casaco não me limite, não me sufoque. Eu posso até tremer, quem sabe até congelar, mas o que me aquece é a ousadia de ver a paisagem e ter mobilidade para tentar ser feliz.

Sim, nós somos apenas mais um ser minúsculo no mundo, mas nos tornamos gigantes quando somos o mundo para alguém.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os limites do infinito.


O limite do infinito é o seu próprio início.

O fim é justamente onde tudo começou.
Então não há por que correr.

Terminaremos exatamente onde começamos,
nesse eterno retorno de desejos e medos.

Deve ser lenta a caminhada,
no tempo que a vida a requer.

Para que não pensemos, erroneamente,
que estamos a dar voltas no mesmo lugar.

A paisagem tem de parecer e ser nova,
mesmo sendo geograficamente a mesma.

Porque nós é quem já não seremos mais quem fomos.
.:.
"We shall never cease from exploration
And the end of all our exploring
Will be to arrive where we started
And know the place for the first time."
T.S. Elliot

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Babushka

Assim que eu me sinto. Como uma Babushka. Quando revelo uma nova Luciane de dentro da antiga vejo que há sempre mais uma escondida nesta. Sei que esse processo não para. Sei que a graça da coisa é justamente a sucessão de descobertas, as novas Lucianes que ainda estão por vir. E, mesmo complexo, às vezes cansativo e sempre desafiador, eu quero seguir me desvendando até chegar lá, na última bonequinha, na minha mais pura essência, da qual nada mais pode estar descoberto. Mas só quando eu estiver assim bem velhinha, pronta para descansar.
Até lá, segue o baile, sigo crendo para ver.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Voa

Minhas penas já tem pouso.

Rumo ao teu colo flutuaram.
Tão suaves e alvas, antes vulneráveis a menor brisa por serem alheias, não minhas. Agora as observo, cuido de sua leveza. Para que não voem de ti mas também para que não sejam peso em excesso. Porque ausências e abusos já são história.

Minhas penas já tem pouso.

Em tua direção voaram.
E tua mão precisa as acaricia e não as prende. Apenas lhes oferece abrigo em concha, para que estejam ali por vontade e vocação, não obrigação. Minhas penas te procuram pois talvez tua tinta venha ajudar a fazer minha história.

Que escrevam e voem, minhas penas.
Que te acariciem e te façam sonhar, minhas inspirações.
Que te injetem entusiasmo, meus desejos.

Liberta tuas penas, teus ais,
Tuas dores e paixões.
Voa comigo.

Ah, se antes...

Ah, se antes ela soubesse que a verdade é como o vento, que quando sopra constante dá continência e define contornos...

Ah, se antes ela soubesse que o amor é coisa delicada, que se constrói com cuidado, sem pressa, sem sonho mas com ideal.

Ah, se antes ela soubesse que beijo é presente e não consolo.

Que sorriso é entrega e não mero agrado.

Ah, se antes ela soubesse que confiança é cristal raro, e mais: se soubesse que é digna de um amor que percebe, que nota sutilezas, que nota distanciamentos, nota fugas e mentiras.

Se antes ela se soubesse especial e diferente como se sabe hoje, não arriscaria a confiança alheia com ferimentos só para testar sua existência.

Hoje ela existe para si e sabe. Ela merece e sabe.

Hoje não é mais ontem. Mas ontens existem para isso.

Ela agora o sabe

Mas se antes soubesse, teria sido diferente o rumo de sua história?

Há que se esquecer dos ontens e amanhãs e compor-se somente de hojes.

Para sempre.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Hoping and Waiting

Em inglês essas duas palavras tem a grafia e a semântica diferentes. Em português, não: Esperar e esperar. A grafia é idêntica, apesar da semântica ser diferente. Será mesmo? A gente espera coisas da vida, no sentido de ter esperança; acreditamos, desejamos, sonhamos. Às vezes, nesse caminho, temos que esperar, no sentido paciência, tolerância. Geralmente é tão dificil conjugar essas duas atitudes. Esperar esperando.

Esperamos coisas da vida e às vezes não esperamos o tempo suficiente.

Às vezes não esperamos nada e por isso perdemos tempo esperando demais.

Um dos meus filósofos preferidos e de quem eu já falei por aqui, André Comte-Sponville, diz que temos que buscar a felicidade desesperadamente. Mas não no sentido de desespero ou angústia, mas no sentido de des-esperar. Parar de esperar e ir buscar a felicidade.

Eu concordo. Mas também penso que a espera é uma arte, que as coisas tem determinados tempos que fogem da nossa compreensão. O mesmo presente pode ser perfeito ou apenas mais um presente se chegar no momento errado. Isso não tem como antecipar. Isso se descobre vivendo. É um risco, até porque para a maioria das coisas importantes da vida não há segunda chance. A vida não é ensaio, já é o espataculo mesmo e não há como repetir cenas.

Mas toda essa divagação é porque eu parei para pensar nessas expectativas da vida, e em como é bom ter esperança. Ela se cansa, às vezes, mesmo as pessoas dizendo que ela é a ultima que morre. E ela as vezes morre sim. Mas de repente, quando a gente menos espera, ela ressurge e traz coisas boas à vida. E também, como é bom esperar no sentido de espera, mesmo deixando a gente impaciente, inquieto, até desanimado muitas vezes. Mas quando algo que a gente espera acontece depois de tanta espera, é uma sensação como poucas da vida. E é justamente, sempre, quando a gente menos espera, que acontecem.

Esperança é esperar que a espera não seja longa, esperar que a espera valha a pena. Mas o melhor de tudo é ter algo pelo qual esperar. Esperar pelo que se espera. Algo que almejemos com todas as forças. Porque viver a vida sem esperar nada, sem querer nada, não traz decepção mas também não traz prazer algum. Prefiro querer muito algo e não conseguir a não querer nada.

Só não dá para esquecer que a vida mesmo, essa não espera.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Grama verde*

"Olhando a cena é que eu me sinto vivo
Deixando o tempo abrir o teu caminho
Pela grama verde eu quero te ver passar
Pela grama verde eu quero te ver passar"

A gente sempre acha que a grama do vizinho é mais verde, que o outro está melhor do que a gente, que a a sorte está sempre com outros, que a fila do lado sempre anda mais rápido do que a nossa. Tudo sempre no fora. O bom ou ruim da vida sempre na dependência do que é alheio a nós. Fácil reclamar assim, não? Às vezes parece que é só lá fora, com os outros, que o mundo está acontecendo, que só os outros estão ganhando, vencendo, se divertindo, sendo felizes.

Mas a vida não acontece lá fora. Porque o lá fora não existe. A vida acontece aqui dentro. Dentro de mim mora o mundo inteiro. E no meu mundo, eu sou a sortuda, a mais feliz, a que tem a grama mais verde, a que anda mais rápido. Isso não significa estar acomodada ou se vangloriando. Porque nem todos os dias são alegres assim e porque ainda podemos querer ser sempre mais.

Dias tristes e ruins existem, eu mesma aqui exponho vários. Mas são meus, comparados apenas comigo mesma, com meus próprios sonhos e objetivos, não com um ideal externo a mim. Isso é ilusão. O mundo é o que eu carrego aqui dentro de mim. E nele há uma grama linda, bem verde e macia, pronta para ser curtida.

*Canção linda do Vitor Ramil que inspirou esse post

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um dos poemas da minha vida

"Uma arte toda sua"
(Elizabeth Bishop. Trad.: Bruno Tolentino)

a arte de perder vem com facilidade
em tantas coisas há uma tal propensidade
um tal amor à perda, que dá mesmo vontade

de perdê-las. De início, perde um item por dia:
molho de chaves, papelada, a hora vadia
esperdiçada - perde e aprende a mais-valia

da arte desastrada de perder... Mais à frente
perde com mais audácia, sê bem mais diligente:
perde nomes, lugares, a viagem iminente

que ficou por fazer, entre um talvez e um quando.
Perdi o relógio de mamãe e um dia, olhando
minha última casa ir se juntar ao bando

das que se haviam ido, fiquei bem deprimida,
sofri, mas não morri. Afinal, é a vida.
a arte de perder, desastrosa e fingida,

despede-se mas volta: perdi duas cidades
(belíssimas!), um rio e, trêmula de saudades,
perdi um continente inteiro! Mas quem há de

esquivar-se a um mistério, se a arte de perder,
desastre ou não desastre, é algo inerente ao ser?
Perder-te, por exemplo, pouco a pouco esquecer,

ou já nem ver direito um gesto teu, um modo
todo teu de dizer... Aceito-o; não de todo,
é claro, algo se insurge, escapa, cai no lodo

de enxurrada da vida, mas que se há de fazer?
Eu recomendo dar de ombros, pois perder
dói sim, mas (toma nota!) ensina-te a escrever...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Blecaute

4 pessoas se reúnem para assistir um filme.

Uma delas é ainda uma novidade para as outras. Talvez até essas próprias outras 3 pessoas também sejam mais novidade para si mesmas do que imaginam. Mas o objetivo do encontro é assistir ao filme. Eles sentarão, assistirão por duas horas, quem sabe comentarão coisas a respeito do ator, do cenário, da trilha sonora. Talvez poderão chorar, talvez poderão dormir no meio do filme. Mais um filme para a lista dos assistidos e fim.

De repente, falta energia na cidade nos primeiros 10 minutos.

De repente, 3 pessoas que acham que se conhecem e uma quarta a ser conhecida, estão no escuro, no silêncio. Sem filme, sem música, sem ar condicionado.

E começam a conversar. Então percebem que não só o olho humano como também todo o corpo e sua subjetividade se adapta à escuridão. Enxerga mais, enxerga coisas que na luz pareciam invisíveis. Enxerga o reflexo da lua no prédio da frente, enxerga outras pessoas, outros universos, outras escolhas, outros caminhos.

Isso tudo aconteceu ontem. E fiquei pensando em como é bom descobrir novas pessoas, como é bom ter momentos de escuridão para enxergar as coisas mais claramente. Como é bom estar perto e criar novos laços. E quem sabe enxergar além.

terça-feira, 14 de julho de 2009

É necessário coragem!


Belo Horizonte, 30 de Dezembro de 1942

“… Esta terra aqui é desgraçada, Mário. Ou o sujeito foge daqui (como fez o Carlos Drummond e recentemente o Oswaldo Alves), ou se perde mesmo. È o caminho de todos nós se aqui ficamos: casar, ter filhos, criar galinhas, um bom emprego, condição social – e literatura mesmo… horas vagas! É o cúmulo. E lá vou eu, Mário, lá vou eu. Nem queira saber que drama tem sido isso para mim. Estarei indo pelo mesmo caminho? Será que conseguirei reagir a tempo, ou me agüentar a-pesar de tudo? Estarei sujeito a ser artista nas horas vagas, por diletantismo? Isso para mim será pior do que a morte. Mas então é preciso mesmo mandar tudo à merda e tocar pra frente, romper com tudo e todos, abandonar tudo e todos, fugir daqui para poder se agüentar? Sinto perfeitamente que se continuar com o corpo mole acabarei pior do que eles, Mário. E isso não pode, não pode acontecer de maneira nenhuma. Coragem eu tenho, se for necessário…”

Correspondência de Fernando Sabino a Mario de Andrade, retirado do livro “Cartas a um jovem escritor e suas respostas” que lembrei quando visitei blog dela!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quantas vidas cabem em uma vida?


"Eu como um rio,
fui desviada por esses duros tempos.
Deram-me uma vida interina
E ela pôs-se a fluir num curso diferente,
passando pela minha outra vida
e eu já não reconhecia mais as minhas margens."

.:.
Esse é um trecho de um poema da Anna Akhmatova, poeta russa. Essa mulher marcou minha vida com esse poema, sem que eu me desse conta. Graças ao meu sempre mestre Charles Kiefer.

Foi numa tentativa de sarau literário idealizado por ele, meu professor no colégio, que fui apresentada a Anna. Eu, uma adolescente romântica e entusiasmada, recebi dele esse poema para que eu declamasse no sarau. O sarau nunca saiu, fruto de uma falta de espaço (mental) e compreensão da escola que não tinha condições de ter naquele momento um evento de tal grandiosidade. E esse poema nunca saiu de mim. Mas eu demorei anos para perceber isso. Eu, na época, li, reli, para tentar decorá-lo e sentí-lo para recitá-lo. Nunca saberei se eu teria conseguido ou não essa façanha de declamar um poema de tal complexidade.

Fico aqui pensando como será que meus olhos adolescentes liam esse poema. O que ele significou para mim lá naquela época. Agora, devido a essas "coincidências" da vida, descobri que na biografia do Modiagliani existem referências a ela. Não sei qual era a possível relação entre os dois. Só sei que hoje à tarde vou voando até a livraria Cultura para adquirir a biografia dele e livros de poemas dela, porque eu ainda não reencontrei esse meu poema completo. E agora sinto que preciso resgatar ele. Sinto que preciso conhecer a história dessa poeta.

Porque é assim, costurando histórias e vidas que nos fazem sentido que vamos dando novos caminhos às nossas.

P.S. Se alguém souber o nome desse poema ou tiver acesso a ele por favor me enviem!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Anjo



Uma vez me disseram que parecia que eu vivia a minha vida como se fosse um conto de fadas ou um filme.

Acho que já foi assim, sim. Hoje eu acho que vivo bem na realidade. Em sua parte dura, cruel e implacável mas também em sua parte emocionante, excitante, aventurosa. Mas que a fantasia me ajuda a enfrentar momentos difíceis, que o sonho, a ilusão e a esperança muitas vezes me alimentam e são muletas para me ajudar a caminhar, são mesmo.

Porque a arte e o devaneio alimentam a gente. E porque eu não posso deixar de acreditar que a gente pode mudar de verdade e ser feliz de verdade. E esse filme é um dos contos de fadas que me faz acreditar na chance do real.

Já aprendi que não existem anjos, mas tenho certeza de que eu posso voar.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Loucos de Cara

"Não importa que Deus jogue pesadas moedas do céu, vire sacolas de lixo, pelo caminho"

Eu sei, posso estar começando a ficar repetitiva, mas a gente nunca sabe o que a vida, Deus ou o destino reservam para a gente. Cada dia eu recebo provas ou sinais de que a vida é um mero detalhe, de que estarmos vivos é sorte ou ironia e que não há nada mais a fazer a não ser o que nos faz feliz. E o mais dificil é mesmo diante dessas duras pesadas moedas do céu que as vezes eu sinto que caem direto na minha cabeça e quase me esmagam, eu não perder uma das coisas que eu mais gosto de ter, que é o brilho nos olhos e o entusiasmo frente a menor coisa, querer estar viva e de me encantar com todos os pequenos detalhes que a vida oferece. As moedas pesam, e caem mesmo. E eu sei que posso fraquejar, mas tenho medo delas também.

"Se um dia qualquer, tudo pulsar num imenso vazio, coisas saindo pro nada, indo pro nada. Se mais nada existir mesmo o que sempre chamamos real, e isso pra ti for tão claro, que nem percebas"

Não existe o real. Cada vez mais me convenço de que o real é absurdo. Existe o possível, o desejo, a vontade. Existe nós. O resto é fruto do acaso. Existe essa vontade de querer ou não viver essa vida. E sermos loucos de cara é uma meta a ser alcançada. Porque ser louco de cara é poder ser inconsequente as vezes, poder errar, poder exagerar, poder cometer erros, machucar pessoas, se enganar... e ter a oportunidade (espera-se) de corrigir as coisas, não sem pagar o preço, é claro. Mas isso é viver. Não quero ser sã de cara e ter uma vida correta, padronizada, dentro do que é considerado certo. Porque não há prêmio nenhum no final da estrada. Nem prêmio de consolação para quem foi o bom "aluno", nem prêmio de bravura para quem foi o doido ou o inconsequente. A vida prega peças na gente o tempo todo, e a todo momento somos surpeendidos. E não dá para fechar os olhos, simplesmente não dá. Eu sempre fui aquela que seguiu as normas e esperou pelo brinde no final. E não vem. Até eu descobrir que o brinde não existe. Que as escolhas são o presente, o brinde, o prêmio. Cabe a nós a coragem de aceitar as consequencias. Tem gente que pensa demais, avalia demais. Teme demais, morre demais. Tem gente que se arrisca demais, é descuidada demais, é demorada demais.

"Vem, anda comigo pelo planeta, vamos sumir. Vem, nada nos prende. Ombro no ombro, vamos sumir"

Não sei mais o que é certo nessa vida. Só sei que certo é tudo aquilo que faz sentido naquele momento. E só. Só sei que a vida passa rápido.

A gente precisa viver muito e reclamar pouco.
Chorar e sorrir muito. Pensar pouco.
Amar e errar muito. Esperar pouco.
Chega de esperar. É preciso fazer.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

High Hopes e Ana Maria Braga

Já li e ouvi diversas vezes que escrever não é um dom nem fruto de inspiração. É fruto de necessidade.

Hoje preciso escrever. Preciso dizer que ontem, depois de muito tempo, ouvi a música High Hopes do Pink Floyd, e fiquei pensando nessas tais hopes que a gente vai construindo ao longo do tempo. Ideais que a gente tem arquietetados para nossa vida, para as pessoas que nos rodeiam, e que, lógico, vão se adequando à realidade e perdendo todo aquele encanto do inatingível "ideal".

Acho que ando melancólica. Mas ontem senti um cansaço por tantas esperanças ainda esperadas. Uma falta de fôlego pelas expectativas que ainda não cumpri. As minhas próprias, que geralmente são muito maiores do que as dos outros.

E, ao meu redor, pessoas que não conseguem lidar com um não, pessoas que só querem um não, pessoas que temem o sim, pessoas que querem garantias antes mesmo de arriscar, pessoas que nem mesmo sabem para onde estão indo, pessoas com medo,... pessoas, pessoas. Onde eu fico em meio a isso tudo? Então me pergunto: será que sou eu quem aceita um não fácil demais? ou então quem diz o não cedo demais? Será que sou eu quem, pior ainda, fica esperando demais por um sim ou um não antes de tomar as atitudes que eu desejo? Como é dificil achar o nosso lugar interno quando há tanto barulho ao redor... Preciso de um spa(ço) mental de mim.

E hoje, como presente para mim mesma achei que eu ia conseguir ir ao show do Jorge Drexler, que seria bem esse momento de paz que eu tanto preciso, mas não deu certo. Acho que vou ouvir ele na minha casa mesmo, e tentar achar esse espaço na marra.

Porque (eu sei, é ridículo) tem dias que eu queria ser a Ana Maria Braga.

sábado, 4 de julho de 2009

Poema sobre o tempo

"Dizem que o tempo ameniza.
Isto é faltar com a verdade.
Dor real se fortalece
como os músculos, com a idade.

É um teste de sofrimento
Mas não o debelaria.
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria."

Emily Dickinson

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Open your eyes...

Tem dias que eu escuto histórias que me revoltam. Histórias que embrulham o meu estômago. Histórias que parecem enredos de novela, de Gilberto Braga a Sílvio de Abreu.

Mas as que mais mexem comigo, em relação ao meu trabalho, são histórias em que as pessoas negam um problema. Ou para não ser tão simplista: pessoas que tem tamanha dificuldade em lidar com uma dificuldade ou com uma ameaça que, como forma de enfrentamento, fogem. "Mas como assim, fugir?", eu penso. Como é possível que alguem saiba que algo de grave está lhe acontecendo e tem essa capacidade psíquica de pensar: "ah, mas se eu mexer piora"; "ah, se eu tomar tal medicação eu vou engordar então o melhor é nem tratar". COMO PODE?

Nesses momentos eu preciso respirar fundo, lembrar que aquela pessoa é outra que não eu, que passa por algo que eu nunca vivi na pele, e que ela é marcada por vivências, histórias, traumas ou aprendizados que lhe trouxeram até ali e que certamente é o melhor que ela pode fazer para tentar sobreviver. Já falei aqui outras vezes que nossos mecanismos de defesa, como o próprio nome já diz, são para nos proteger do impacto de traumas ou dificuldades de nossas vidas.

Sempre lembro e digo que é muito fácil falar estando do outro lado, o lado de quem ouve, de quem está supostamente sadio. Não sei como eu reagiria frente a um golpe muito duro, frente a uma escolha que eu não desejaria ter que fazer. É fácil julgar. Mas tem dias que dá vontade de esquecer meu papel e dar uma sacolejada nas pessoas e dizer, "Poxa! acorda! É tua vida que está em jogo! presta atenção!". Mas não dá. Isso só afasta as pessoas, porque se não enxergaram isso ainda é porque não estão prontas para isso. E isso não é só no trabalho. Às vezes até com amigos tem verdades que não podem ser ditas antes da pessoa estar pronta para isso.

E quer saber? Deve ter muita coisa que eu também não enxergo e nem mesmo sei! Deve ter muita coisa que eu sigo negando, que eu sigo "inteligentemente" preferindo não enxergar ainda. Mas estou no caminho, estou desvendando o que é necessário no meu próprio tempo.

Porque do meu futuro eu não fujo mais. Nem da minha felicidade. Ela está ali, bem perto, esperando que eu a encontre. E vocês? Estão procurando?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O post lançado

Tinha um post aqui entitulado Laços. Mas não tem mais. Certas horas é preciso saber quando calar. Quem leu, leu. Quem não leu, talvez não tenha perdido nada demais.

Porque ao contrário da palavra e da flecha, que quando lançadas, não tem volta, um post de blog tem. Ainda bem.