segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quanto mais, mais


Quanto mais tempo fico sem escrever, mais coisas tenho para dizer, e portanto mais dificil fica de escrever.

Quanto mais medo tenho de viver todos os riscos que uma vida pressupõe, mais vontade dá de arriscar tudo só por breves e incontroláveis momentos de felicidade.

Quanto mais eu aprendo a expressar meus desejos, mais eles me agradecem e me presenteiam com sua presença consciente -os bons e os ruins. Porque sentimento ruim também pode ser dádiva.

Quanto mais eu aprendo, mais eu me vejo menina.
Quanto mais eu me molho, mais aprendo a reconhecer quando a chuva está por chegar.

Quanto mais eu leio Clarice, mais e mais eu amo Clarice.

Quanto mais eu amo, mais percebo que esse amor que vem de mim acaba voltando para mim, como um auto-amor, simplesmente pela possibilidade de exercer a liberdade de amar (quase) sem medo.

Quanto mais eu escrevo, mais eu não sei.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Chega mais perto

Senta aqui, chega mais perto, porque tenho tanto a te contar. Já faz tanto tempo que não te vejo e a vida não tem mais sido a mesma. As pessoas hoje conversam por uma tela de computador e eu sinto falta de enxergar o meu reflexo na retina de quem me ouve.

Chega mais perto porque preciso te contar de tudo o que venho ouvindo e vivendo, preciso que entendas tudo que se passa comigo e que saibas que hoje eu já não sou mais a mesma. Às vezes eu penso que devem existir várias outras de mim soltas aí pelo mundo, uma para cada época do que fui. Deve ter gente que nunca vai ter uma réplica sua na vida, não é mesmo? Fica sempre igual a vida toda. Eu devo ter tantas cópias de mim soltas por aí...

Mas senta aqui, chega mais perto e conta um pouco de ti. Mas não conta qualquer coisa. Me fala de ti, me fala do que tu sentes, do que és, me fala do que tu nem mesmo sabes e que somente quando ouvires as palavras saaindo da tua boca é que vais perceber quanta coisa havia aí dentro. Fala comigo e deixa que eu acompanhe teus lábios, deixa eu saber e entender quem és, mesmo que a gente se conheça há tanto tempo... Parece que ninguém mais sabe conversar hoje em dia.

Chega mais perto, pega na minha mão e olha silente nos meus olhos. Apenas por alguns instantes. Não precisa ser sempre, porque dói. Olha o suficiente para que eu te leias, o suficiente para que a gente lembre que palavras tantas vezes não atingem o que pode dizer uma lágrima.

Eu olho para essa cidade que hoje nos cerca; seus carros, seus edifícios, seus operários fardados de gravata... Haja céu para tanto concreto. Haja reflexo para tanta luz. Eu que já não entendo mais tanta coisa e ao mesmo tempo vejo tudo mais claro, me vejo hoje em olhos de mulher feita, e isso me agrada.

Não fala nada e nem precisa lembrar do que eu acabei de dizer. São só palavras. Apenas chega mais perto, aperta minha mão, e vive esse mundo todo aqui comigo.