sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uma boa dose de Nietzsche para o feriado...


“A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.”

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”

“Sem música, a vida seria um erro.”

“Temos a arte para não morrer da verdade.”

“Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia.”

“Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?”

"É preciso ter asas, quando se ama o abismo".

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Resiliência: A saga (Parte III): Escolhas, renúncias e responsabilidade


Depois de muita correria, horas na frente do computador, horas de trabalho com o estatístico, chegou a hora de encarar meu orientador, que, de um jeito extremamente afetivo me disse que minha dissertação do mestrado precisava de mais análises, mais estatísticas e consequentemente mais tempo, o que era a única coisa que eu não tinha.

Amanhã, dia 30, seria o dia em que eu teria que estar entregando minha dissertação. Foi então que com a ajuda dele eu tomei a decisão: trancar meu mestrado por um semestre, trabalhar com tempo e dedicação na minha dissertação a partir de março e defender em agosto. Parece simples, mas não foi fácil. Foi uma decisão que trouxe como implicação lidar com a frustração de não conseguir cumprir um prazo, a sensação inevitável de que não dei conta das minhas responsabilidades, etc. Mas o saldo final também foi de alívio, um imenso alívio.

O dificil e o que acho que realmente torna útil postar isso aqui, é a sensação que fiquei depois, quando comecei a contar às pessoas sobre minha decisão: era como se eu ficasse esperando que as pessoas me dissessem: "Que coisa boa, Lu", " Fez muito bem, não tem problema esperar mais um semestre!" Mas ninguém me disse isso. Porque ninguém tem obrigação de dizer isso e porque ninguém sabe de fato o que se passava dentro de mim em relação a isso.

Foi então que essa escolha fez reverberar tantos sentimentos em relação a tantas outras escolhas que já fiz e que são feitas todos os dias por mim e por cada um de nós. Será que fazemos nossas escolhas totalmente isentos da opinião alheia? Por que se torna tão importante a aprovação dos outros quando tomamos uma decisão? Precisamos de cúmplices que tornem nossas decisões coletivas ao invés de individuais e, portanto, as consequencias delas também?

Decidir nunca é fácil. Escolher um caminho, abandonar alguma coisa, fechar um apartamento para pensar num objetivo a longo prazo, terminar ou começar uma nova relação, mudar de emprego ou se atirar de cabeça no que se está. Mudar de cidade ou ficar na que se conhece. Toda escolha inplica em perda, em renúncia. E o complicado é que conhecemos o que estamos perdendo mas muitas vezes ainda desconhecemos o que iremos ganhar. Então fica aquela incógnita: Largo o certo, o garantido pelo duvidoso? E o mais curioso é que tem pessoas que se apegam ao garantido mesmo quando ele já não serve mais, quando não traz mais alegrias. Mas as vezes a segurança da monotonia supera o desejo pelo novo e as surpresas do incerto, mesmo que exista a promessa de uma vida melhor nesse terreno desconhecido.

É só uma postergação de 6 meses. Uma escolha banal. Mas nao é simples assim. Eu tomei uma decisão que é minha. Ninguém tem nada a ver com isso. Sou eu comigo mesma e encarando as consequencias dos meus atos sem ter ninguem a resposabilizar além de mim mesma. E foi só em relação ao mestrado mas a partir de agora vai ser em relação a tudo que eu escolher.

É, não é fácil ser adulta. Assumir responsabilidade pelas escolhas. Mas é o unico jeito de se crescer. De aprender de fato e parar de culpar aos outros quando alguma coisa dá errado e poder olhar para si próprio e saber onde se errou ou acertou.

Erros, acertos, ganhar ou perder. Quem saberá? Os dados estão lançados e cada um vai escolhendo e vivendo como pode.

Boa sorte a todos nós.

Ele é meu professor...

"Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir.
Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons.
Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar.
Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda.
Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho.
Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento.
Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho.
Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social.
Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes.
Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho.

Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim.

Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado.

Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo.

Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço.

Meu maior medo é escrever para não pensar."

Fabrício Carpinejar

***


...e o meu maior medo é que eu não aprenda a lição...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Simplesmente Luciane

Ontem não postei nada. Hoje estou com pouca vontade, mas resolvi sentar aqui e escrever de qualquer maneira. Saia o que sair. Nem que depois eu apague tudo.

Eu quero falar de limpeza. De leveza. Eu quero pensar em renascimento, em brindes, em vento no rosto, em risada de criança.

Limpeza é lavar a alma. Ser feliz até chegar naqueles momentos em que parece que o coração vai explodir de tanta alegria. Como se não coubesse no corpo. Eu já senti isso. Na quantidade mínima para que eu não esqueça como é mas também o suficiente para que não seja tão fácil de se atingir.

Eu quero amizade. Verdadeira. Eu quero cultivar meus amigos, que eles saibam o quanto são preciosos para mim. Quero amar certo, quero me dar, quero continuar sendo assim explícita, assim com o mundo escrito nos meus olhos. E claro, preciso continuar convivendo com bons leitores deles. Pessoas ricas, pessoas que me agreguem coisas, pessoas gente, não fachadas, como se vê tanto por aí.

Quero chorar de alegria. Quero me arrepiar várias vezes por dia. Receber gestos espontâneos a qualquer hora. Quero continuar amando as pequenas coisas da vida, coisas banais.

Quero continuar sendo musical como eu sou, que minha vida vá agregando novas músicas na sua trilha sonora. Quero não esquecer das minhas dores para que eu possa lembrar o quanto cresci, o quanto ainda tenho a aprender. Quero ter orgulho das minhas feridas e cicatrizes.

Quero cuidar da minha família. Não esquecer de dizer a todos que amo cada um deles de um jeito especial. Quero formar a minha família, ser uma pessoa boa, formar pessoas do bem, pessoas integras, gente. Dar amor, assim sem esperar nada em troca além de amor recíproco.

Quero meditar, tomar banho de mar, ter conversas de verdade. Quero ter por perto gente que saiba olhar nos olhos. Quero ler, quero aprender, quero ensinar.

Quero tudo aquilo: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Quero vida. Quero voltar a tocar violino um dia em breve, quero pintar um quadro algum dia. Quero não deixar nada desses desejos para depois. Quero não esquecer que a vida é preciosa.

Quero tudo isso e somente isso.

Estou feliz, hoje, por ser simplesmente Luciane e saber quem ela é de verdade. Por ter chegado até aqui, por estar satisfeita comigo e com as escolhas que venho fazendo, e claro, sempre acreditando que o destino, a sorte, ou sei lá como podemos chamar isso, também fica do meu lado de vez em quando.

É, foi bom escrever tudo isso. Não vou apagar não. A quem teve paciência de ler até aqui eu agradeço, a quem não teve eu também agradeço. Porque tem coisas que a gente escreve para a gente mais do que para qualquer um.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Chega de saudade?


Amo essa letra do poeta Tom Jobim, mas não sei se chega de saudade... Desde ontem venho pensando nela.

Estava sentada no ônibus em Garopaba esperando o que seria minha longa jornada de 7 horas e 20 minutos de estrada até Porto Alegre quando entra uma guria, lá pelos 20 e pouquinhos, chorando no ônibus. Sentou na poltrona na mesma fileira do que eu, do outro lado do corredor. Fiquei olhando de canto para ela(porque não tem nada mais desagradável quando a gente precisa chorar em público e alguém fica olhando sem parar) e viajando no motivo do choro dela. Logo presumi que devia ser aquela despedida do carinha com quem ela ficou e que deviam estar naquela paixão e ela tendo que se separar dele para retornar à cidade. Sorri comigo mesma pensando na beleza desses momentos e o quanto essas recordações são coisas preciosas na nossa vida, mas ao mesmo tempo sei o quanto para quem vive isso, naquele momento, não é engraçado, ainda mais nessa idade em que tudo o que se refere a essa área do amor é mega sério e dramático.

Saí do foco dela e me voltei para a vida em geral e para a saudade.

Eta sentimento complexo de se explicar.

Cada pessoa sente saudade de uma forma diferente, mas se a gente perguntar, todo mundo vai dizer que já sentiu alguma vez na vida. E quando vi o aparente "sofrimento" dessa guria pensei: "Claro que ela não está pensando nisso agora, mas como é bom sentir saudades". Porque significa que a gente está ligado a alguém ou a alguma coisa de maneira tão intensa, tão entregue, que quando a gente se afasta parece que uma parte nossa ficou com essa pessoa de quem nos afastamos.

Dói sentir saudades, principalmente quando a perda é permanente. Mas como é bom ter essa capacidade de se entregar, de investir e colocar um pedaço da gente em outra pessoa. Relações são uma coisa complicada. A gente não tem certeza nenhuma em quase nada nessa vida, então muitas vezes ficamos num terreno frágil, de vulnerabilidade.

Mas, quando se está morrendo de saudades de alguém e se revê essa pessoa que carrega consigo essa parte da gente tão prezada e sabemos que essa saudade é recíproca , não há sensação melhor. Como se o mundo ao redor pudesse parar.

Não, não chega de saudade. Deixemos que ela chegue, que mostre o quanto certas pessoas nos são queridas e ocupam um espaço precioso na nossa vida. Mas também deixemos que ela vá embora de tempos em tempos, para o nosso coração e nossa alma poderem sorrir e estar em paz.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O verdadeiro jogo da vida

CENA I
LOCAL: Shopping total, lojas França (detalhe para a imensidão que é aquele mundo que eu desconhecia!)

OBJETIVO: Comprar jogos para pré adolescentes no consultório.

DETALHE: Eu, uma mulher sem filhos, sem sobrinhos nem afilhados ainda sem a circulação nesse meio para saber dos preços. Ontem eu soube.
Jogo da Vida: R$ 89,90

DESFECHO: Dois jogos adquiridos: o velho e bom Detetive por R$ 59,90 e o Perfil, por R$ 62,00. Acho até que foi um final feliz.

CENA II
LOCAL: Residência da protagonista, consultório de psicologia, residência do irmão da protagonista;

OBJETIVO: Devolver a chave da porta da frente do consultorio que o irmão havia, por descuido, levando consigo no dia anterior. A protagonista, por vezes um tanto estabanada, em meio a sacolas e outras tarefas perde a chave, que era ÚNICA. Sexta feira, 7:30 da manhã, ela telefona para um chaveiro, solicita o serviço, valor 105 reais, jogados fora, porque certamente na tarde seguinte à troca das chaves a original vai ser encontrada, mas ok.

DETALHE: A protagonista ainda tinha que comprar sua passagem de onibus para a praia e buscar sua camera digital na casa de uma amiga.

DESFECHO: Porta do consultorio aberta, camera em mãos, passagem comprada, mas atrasada no trabalho. Mas o stress não foi nem metade do que seria ha algum tempo atrás. Nada como aprender a lidar com nossas pequenas atrapalhações diárias.

CENA III
Essa é a cena final, a cena da vida.
Atendo alguem que perdeu uma filha de 20 anos há exatos 7 dias, de forma abrupta e repentina.
Ela, a paciente, em tratamento quimioterápico desde oínício do ano passado.
A filha, cheia de saúde e com a vida pela frente, parte antes.
Isso apaga toda e qualquer cena anterior.

Esse sim é o nosso jogo, o nosso grande desafio: Conseguir viver frente a esse mundo tão maluco, a esse destino tão imprevisível... Conseguir, frente a tantas dores, tantas possíveis perdas, ainda sorrir e acreditar que o mundo pode sempre ser melhor e que a felicidade está bem aqui, bem agora, debaixo dos nossos pés.

Esse sim é o nosso JOGO DA VIDA. O resto é o resto

....

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Bobagens


Às vezes eu queria ser menos densa.

Hoje não quero profundidade.
Hoje quero superfície.
Só um pouquinho.

Alguém tem alguma bóia aí?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Palavras apenas, Palavras pequenas...

Hoje acordei em silêncio. E o mundo gritava dentro de mim. Impressionante como em determinados momentos em que estamos sós e conseguimos nos perceber "de fora", nos damos conta da quantidade de pensamentos e idéias que nos acompanham.

Então percebi que a pauta psicológica do meu dia hoje é: comunicação. No seu sentido mais amplo. Sempre me impressiono ao ver que cada vez menos as pessoas conseguem efetivamente se comunicar. Acho que há um equívoco atual: muitos consideram que comunicar algo é simplesmente conseguir falar o que se deseja. Eu discordo. Falar é fácil. Agora, ser escutado está cada vez mais raro.

O que mais acontece nos diálogos atuais justamente vai contra o sentido etimológico da palavra diálogo. O que ocorre mais comumente é a concorrência entre dois monólogos. Dificil conhecer alguém que te escute e fique, por 10 minutos que sejam, focada no teu problema, ou na tua questão, realmente colocando-se no teu lugar e te ajudando a solucionar a questão. Isso me entristece. As pessoas querem só falar de si. Querem respostas rápidas. Querem "vomitar" o que sentem a qualquer preço. Não todas, lógico. Mas percebo uma tendência a esse isolamento.

Então pensei em quanto eu tenho me exercitado nesse aspecto, não tanto de ouvir, pois isso eu sinto que consigo fazer, até pelo fato da profissão que escolhi, que traz como consequencia essas capacidade de ouvir, a disponibilidade afetiva de colocar-se no lugar do outro.

Meu exercício tem sido o de reflexão pessoal sobre a diferença entre palavras e atitudes. Nem sempre elas vão pelo mesmo caminho. Alguns dizem que um gesto vale mais do que mil palavras. Concordo. Mas existem certas palavras que precisam ser faladas, e gestos não falam por sentimentos toda hora. Freud, no início da descoberta da Psicanálise a definiu como "a cura pela palavra". Basicamente muitas resoluções de conflitos inconscientes começam a sofrer mudanças e a apresentar melhora quando conseguimos dar palavras ao problema. É então que a questão começa a ser trabalhada para que somente aí, os comportamentos comecem a ser modificados.

Palavras. Atitudes. Mas e o silêncio?

O silêncio fala. Muito. Pode falar da incapacidade de se comunicar. Um olhar sim, pode falar mais do que palavras. Nessa nossa era virtual de msn, twitters, blogs e sms, o silêncio, o olhar, a comunicação não-verbal foi vencida pela facilidade e a neutralidade de palavras digitadas. Não posso perceber a emoção por detrás de um torpedo. Uma mesma frase pode ser compreendida de inúmeras formas dependendo da entonação em que é colocada. E se eu leio essa frase, vou dar a ela a entonação que eu imagino, e daí começam os problemas. A falha na comunicação. As pessoas conseguem se expresssar melhor por palavras escritas do que pelas faladas e quando se veem frente a frente não conseguem nem mesmo se olhar nos olhos.

Não sei. Não tenho conclusões. Só acho que hoje vou passar o dia refletindo sobre isso. Sobre o prazer de ser escutada, sobre o prazer de perceber um gesto de alguém que me emocione, e também sobre os silêncios com os quais temos que conviver para nos ouvirmos melhor.

E agora, pensei: será que eu consegui comunicar o que eu pretendia através dessas palavras?

...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Before sunrise


"I like to feel his eyes on me when I look away"

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Mind your own business


Da trilha de "Stranger than Fiction".

Adorei a letra.
Adorei a sonoridade.
O legítimo momento "cada um no seu quadrado"

Das coisas boas que a chuva não leva


Esse final de semana de praia, curto mas que valeu por semanas, já me trouxe aqui de volta a pensar.

Uma das coisas que mais eu penso nessas viagens curtas assim, e que são mais para "longe" do que a lógica te mandaria ir por apenas dois dias, é que a gente esquece o quanto é fácil fazermos mais da vida, sairmos mais do lugar, nos divertirmos mais, e que muitas vezes é a nossa inércia que nos impede de ter mais diversão na vida.

Sempre que eu estou em Porto Alegre e penso em ir até Santa eu penso, "Bah, mas só por um fim de semana, a estrada ainda não tá boa, é tão longe...", bla, bla, bla. Depois que chego lá, mesmo que seja no sábado de manhazinha, e passo um dia leve, ou piso na areia e dou UMA caminhada na praia, meu pensamento automaticamente passa para "Bah, eu poderia ir embora agora que já teria valido a pena".

Ontem até às 8 da noite eu estava em Santa Catarina. Hoje, 8 da manhã, já estava aqui em Porto começando minha semana bem feliz. As coisas não são difíceis. As coisas são muito simples, na verdade. A gente é que complica. E olha que o sábado inteiro foi de chuva e mesmo assim eu poderia ter voltado sábado e já teria valido a pena. Sair do lugar, pisar na areia, conhecer melhor as pessoas com quem convivemos, fazer novos amigos, ter a felicidade de acordar no domingo e vibrar pelo simples fato do sol estar brilhando já é tudo.

Praia, amor, amizade, gratidão e alegria são algumas das boas coisas da vida que não tem chuva que leve.

Amem.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Resiliência: A saga - Parte II


Hoje não tem poesia, não tem Quintana, não tem Alice. Hoje é tempestade emocional na minha embarcação.

Às voltas com a finalização da minha dissertação, fui hoje, às 07:45 (!) falar com meu orientador, imaginando que tudo seria aprovado, que ele me indicaria apenas algumas outras colocações para as conclusões e à tarde eu partiria para o meu paraíso sem nenhuma preocupação na cabeça além de sol, mar e boa companhia.

Acontece que, por falha minha em não ter sido uma orientanda mais presente, ele resolveu achar várias coisas a acrescentar, principalmente análises estatísticas.

Hoje é dia 16.

Eu deveria entregar dia 30.

Eu preciso marcar hora com o estatístico da universidade, que está sempre lotado.

Eu odeio estatística.

Eu estou atolada de tarefas no trabalho.

Eu PRECISO ir para a praia.

Não há ninguém que possa me ajudar além de mim mesma nessa hora. Acho que isso apavora. A responsabilidade é minha. Na verdade meu segundo semestre de 2008 foi horrível e sei que me atrapalhou completamente na história do mestrado. Meu carro roubado com todos (eu disse TODOS) os materiais e questionários da minha pesquisa dentro, me obrigando a refazer TUDO de novo, minha mãe com problemas de saúde que me fizeram concentrar toda a energia do mundo nela (e isso eu jamais vou me arrepender). Mas na verdade, como diz o Quintana (olha como ele sempre volta!), o difícil dos problemas da gente é que ninguém tem nada a ver com isso, então não adianta eu ir na CAPES me lamentar que meu carro foi roubado, porque isso é problema meu!

Mas em resumo nada enxuto: agora vou tentar uma prorrogação do prazo para entrega da dissertação. Não sei ainda como. Não sei se por isso agora terei que pagar, já que por enquanto sou bolsista. Enfim, tem dias como hoje que não há poesia que embeleze ou amenize.

Mas então eu paro e penso que na verdade, sem querer tirar a importância disso na minha vida, é só uma dissertação. Não é a minha vida toda. É apenas um problema, um desafio. Preciso manter o foco no que realmente me interessa, no que me é mais caro. Não estou dizendo que deve-se "chutar o balde" e desisitir de tudo quando algo complica, porque isso seria estupidez.

Vou respirar fundo, fazer o que eu puder de melhor. Talvez o resto se arranje. Mas eta manhã bem dificil essa. Difícil é lidar com essa sensação de que está tudo desmoronando, que eu falhei e que deu tudo errado...

Será essa uma vivência pessoal para que eu compreenda, realmente e corporalmente, o significado da palavra resiliência?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Quintana pede, eu faço


OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Digo a vocês, meus senhores

Digo a vocês, meus senhores
Que sigo preferindo o longo caminho
Pela beleza de suas paisagens e curvas,
pois sei que já não caminho sozinho.

Digo a vocês, meus senhores,
Que sigo preferindo o pranto
Por suas lições e recomeços,
à vida tranquila mas sem encanto

Digo a vocês, meus senhores,
Que prefiro a pílula pálida
Que por vezes na garganta entala,
à pilula dourada, falsa cálida.

Digo a vocês, meus senhores,
Que prefiro me atirar na vida
Mesmo sem certeza ou garantia,
a passar por ela batida.

Digo a vocês, meus senhores
Que viver assim é complexo,
Pois buscar saber quem se é
Traz sempre um duro reflexo.

Saibam então que busco, meus senhores,
desesperadamente, saber quem eu sou
E cuido bem de minhas dores e vitórias
Porque essa busca, ah, sempre me encantou!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A análise e o entusiasmo da invenção

"Num momento, há queixa e há esperança. Mas, após o início de uma análise, a pessoa perde a possibilidade de se queixar. Perde, então, todas as esperanças. Caso pareça pessimista, não o é. A análise não gera conformismo nem apatia. Basta perceber que o esperançoso, como o queixoso, está insatisfeito com o presente. A esperança também pode ser, paradoxalmente, o afeto dos deprimidos. Sem ela, tem vez a ação. Essa é a boa perspectiva.

Quem passa por uma análise não pode buscar alívio em mais uma interpretação. Não espera um sentido diferente. Já não será alguém que espera remover obstáculos para ser feliz.

A clínica do real tem como expressão prática a perda da esperança de um sentido último e, em consequência, o entusiasmo da invenção"

Jorge Forbes, no livro "Você quer o que você deseja?"


Adorei!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cansada, querendo voltar a ser criança por uma semana...



...onde esse era o único tipo de guerra que se travava (antes da guerra de ter que tomar banho e escovar os dentes...)

Resiliência: a saga (parte I)


Quem me conhece sabe que a palavra resiliência tem feito parte do meu vocabulário diário há alguns meses.

Agora, na fase final (e desesperada) de elaboração da minha dissertação de mestrado, tenho lido ainda mais para poder escrever a discussão da pesquisa, ou seja, aliar os dados que levantei com a bibliografia e colocar minha opinião crítica a respeito. Não vou ficar aqui explicando toda a minha dissertação porque ninguém chegaria ao final do post, mas falo do que interessa a todos nós e que é a definição da palavra resiliência: a capacidade que o ser humano tem de enfrentar traumas, quedas, obstáculos, e ainda sim retornar à vida e retomar sua estrutura.

Quando dou aulas sobre o tema, sempre explico em uma linguagem direta e acessível, que para pensarmos em nossa capacidade de resiliência poderíamos pensar no João Bobo, que sempre leva socos mas sempre se ergue novamente. Talvez eu esteja postando sobre isso como uma necessidade de me aliviar um pouco desse tema, mas também para dividir uma leitura que fiz que me serviu muito e acho que vale compartilhar:

" A atitude resiliente consiste em perguntar-se: O que vou fazer com a minha ferida? Vou refugiar-me de vez em quando em minhas fantasias e extrair delas átomos de beleza que me permitam convertar o real em algo suportável, que me permita inclusive, vez ou outra, embevecer-lo?"

Ele fala em defesa de uma fantasia que embeleza a vida, não fantasia como fuga. Fantasia que vem na criatividade. Ele diz:

"Quando o real nos desespera, a fantasia constitui um fator de proteção".

Porque, ele nos diz mais, o trauma não é a dor do golpe que recebemos mas sim a forma como interpretamos esse golpe e o significado que damos a ele. E isso vai depender de nossa história, de nossos recursos internos. Todos somos resilientes, Uns mais, outros menos. Mas todos temos o potencial para levantar depois do soco, de voltar a sorrir depois de uma dor.

Ainda bem que temos a nossa fantasia, nosso refúgio secreto que só nós conhecemos. Ali, nesse lugar sagrado onde somos tudo o que desejarmos.

A resiliência continua...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Para começar a semana de um jeito bem "Maria" de ser...



"Mas é preciso ter manha,
É preciso ter graça,
É preciso ter sonho, sempre.

Quem traz na pele essa marca
possui a estranha mania
de ter fé na vida!"

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

E se nada mais restasse?


E se nada mais restasse,
seguiríamos acreditando na vida?

Afinal, o que nos resta é somente essa esperança,
Essa teimosa crença de que o futuro só não chegou
porque ainda está atrasado.
Essa certeza de que os presentes estão à nossa espera,
em algum lugar nem tão longe que desanime a busca,
nem tão perto que torne a conquista banal.

Sejamos otimistas incorrigíveis,
magnatas da esperança.
Porque não há nada mais triste
do que vida sem sonho,
do que dias sem sorrisos,
sem choros de alegria
sem a respiração ofegante
pela expectativa do que há por vir.

Tapas e quedas são alicerces da construção de nós mesmos.
A dor de viver é uma chaga que arde fundo.
Não para todos, infelizmente. Porque arder dói, mas cicatriza.

E dói muito mais a vida insípida
do que a marca de uma lição aprendida.

Ainda hei de saber o que me espera
Vou caindo e tropeçando,
Correndo e aprendendo.
Sorrindo e ardendo.

Estou em plena estrada
Com o presente em minhas mãos
e meus ideais na bagagem.

E se nada mais restasse,
eu seguiria acreditando na vida,
porque dentro de mim,
resta um mundo inteiro.

Feet off the ground

Faz dois dias que essa música não sai da minha mente.
Talvez porque eu tenha ouvido uma versão linda dela na trilha sonora de uma das minhas séries favoritas, Californication (para quem não conheçe, eu recomendo!).

Ou talvez seja porque eu venha me sentindo uma rocket woman ultimamente, com meus pés e minha cabeça bem longe da terra...

And I hope its gonna last a long long time...

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Rocket Man (I Think It's Going To Be A Long Long Time)

She packed my bags last night pre-flight
Zero hour nine a.m.
And I'm gonna be high as a kite by then
I miss the earth so much I miss my wife
It's lonely out in space
On such a timeless flight
And I think it's gonna be a long long time
Till touch down brings me round again to find
I'm not the man they think I am at home
Oh no no no I'm a rocket man
Rocket man burning out his fuse up here alone

Mars ain't the kind of place to raise your kids
In fact it's cold as hell
And there's no one there to raise them if you did
And all this science I don't understand
It's just my job five days a week
A rocket man, a rocket man

And I think it's gonna be a long long time...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Depois que a gente entra na toca...


"Era muito mais agradável lá em casa" - pensou a pobre Alice - "quando não se estava sempre crescendo ou diminuindo desse jeito, nem recebendo ordens de ratos e coelhos. Quase chego a desejar não ter entrado nunca na toca do coelho... e apesar disso... apesar disso... é tão curiosa essa espécie de vida! Só queria saber o que aconteceu comigo."


(As Aventuras de Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mind trip


Ontem eu dirigia a caminho de casa e parei na sinaleira ao lado de uma agência de viagens. Os cartazes afixados nas janelas ofereciam propostas tentadoras: pacotes para o Peru, para a Europa, Ásia, etc. Ver aquilo me deu uma vontade imensa de viajar, de sair. Tudo bem, várias obrigações e atividades que têm me tirado o sono justificariam qualquer desejo de "sair fora", jogar tudo para cima e me afastar dessas tarefas da so called vida adulta.

Mas não foi por isso que senti esse desejo de viajar.

Senti saudade da sensação que uma viagem me desperta e que sempre adoro. Amo perceber que ao estar em algum lugar estranho eu sou tudo com o que conto, que minha identidade é o meu corpo, as poucas roupas e acessórios que trago na mala e meus pensamentos, meu mundo interno.

Parece bobagem, mas não é. Aqui, em casa, na minha cidade, várias coisas definem minha identidade: meu local de trabalho, minha família, minha gata, espaços físicos onde circulo: minha casa, o parque, as ruas. Me encontro um pouco em cada lugar onde vou. isso é importante, claro, pois dá uma sensação de segurança, constância e acolhida nesse mundo louco em que vivemos.

Numa viagem é diferente. Não estou em lugar nenhum além de mim mesma. E isso permite com que eu me conecte com partes de mim que muitas vezes estão mais no "fora" do que no "dentro". Eu absorvo a viagem, eu incorporo as novas coisas que observo e aprendo à minha identidade. E isso é fantástico. Tem uma linda crônica do Rubem Alves que eu amo que se chama "Não viajei", onde ele fala que muitas vezes não adianta fazer grandes viagens se não desembarcarmos de nós mesmos, e que podemos fazer grandes viagens sem sair de nossa casa.

Adoro isso. Mas adoro pegar um avião e sentir esse estranhamento, sair do meu lugar, perder minha identidade concreta para me perder em novos cenários e quem sabe, cada dia um pouquinho mais, me encontrar de verdade.


"Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar."

Cecília Meireles

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fragmentos de escritos...

Se meu corpo falasse a língua dos homens
Eu jamais seria discurso.
Seria poesia, não prosa.
Seria profunda, não superficial.

Minhas células estariam cantando
Minha pele emitiria notas musicais
Tão suaves que poderiam compor
melodias harmoniosas e macias.

Meus olhos, ao piscarem,
seriam como batidas leves
dando ritmo a uma dança sem fim.
Meu sangue correndo nas veias
emitiria um som de mar em ressaca,
aquela boa, intensa, visceral.

Meu corpo é som.
Minha alma é música.

Sou uma composição feita por mim,
instrumento dos meus sonhos.
Melodias com tantas letras.
Meu corpo é canção.

Por isso não adoeço.
Por isso sobrevivo.

Porque quando chega o pranto,
Viro melodia, todo dia
e me torno en-canto

domingo, 4 de janeiro de 2009

2009

Aqui estou.

de volta às paredes brancas do apartamento,
depois dos tijolos à vista da casa da praia;

de volta às ruas asfaltadas e aos carros que passam,
depois da areia e do mar;

de volta aos sapatos,
depois dos chinelos e pés descalços;

de volta à realidade e à rotina,
depois do descanso e da diversão;

de volta ao trabalho,
depois do ócio;

de volta.
Sem volta.

Agora eu quero ir.

Ir à frente,
depois de estar estacionada.

Ir atrás do sonho,
depois de ter tantos medos.

Ir trabalhar com paixão,
depois do cansaço.

Ir dar ordem à minha vida,
depois do caos.

Ir amar,
depois de tanto tentar.

Ir ser amada,
depois de esquecer disso.

Aqui estou.
Viva