quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Palavras apenas, Palavras pequenas...

Hoje acordei em silêncio. E o mundo gritava dentro de mim. Impressionante como em determinados momentos em que estamos sós e conseguimos nos perceber "de fora", nos damos conta da quantidade de pensamentos e idéias que nos acompanham.

Então percebi que a pauta psicológica do meu dia hoje é: comunicação. No seu sentido mais amplo. Sempre me impressiono ao ver que cada vez menos as pessoas conseguem efetivamente se comunicar. Acho que há um equívoco atual: muitos consideram que comunicar algo é simplesmente conseguir falar o que se deseja. Eu discordo. Falar é fácil. Agora, ser escutado está cada vez mais raro.

O que mais acontece nos diálogos atuais justamente vai contra o sentido etimológico da palavra diálogo. O que ocorre mais comumente é a concorrência entre dois monólogos. Dificil conhecer alguém que te escute e fique, por 10 minutos que sejam, focada no teu problema, ou na tua questão, realmente colocando-se no teu lugar e te ajudando a solucionar a questão. Isso me entristece. As pessoas querem só falar de si. Querem respostas rápidas. Querem "vomitar" o que sentem a qualquer preço. Não todas, lógico. Mas percebo uma tendência a esse isolamento.

Então pensei em quanto eu tenho me exercitado nesse aspecto, não tanto de ouvir, pois isso eu sinto que consigo fazer, até pelo fato da profissão que escolhi, que traz como consequencia essas capacidade de ouvir, a disponibilidade afetiva de colocar-se no lugar do outro.

Meu exercício tem sido o de reflexão pessoal sobre a diferença entre palavras e atitudes. Nem sempre elas vão pelo mesmo caminho. Alguns dizem que um gesto vale mais do que mil palavras. Concordo. Mas existem certas palavras que precisam ser faladas, e gestos não falam por sentimentos toda hora. Freud, no início da descoberta da Psicanálise a definiu como "a cura pela palavra". Basicamente muitas resoluções de conflitos inconscientes começam a sofrer mudanças e a apresentar melhora quando conseguimos dar palavras ao problema. É então que a questão começa a ser trabalhada para que somente aí, os comportamentos comecem a ser modificados.

Palavras. Atitudes. Mas e o silêncio?

O silêncio fala. Muito. Pode falar da incapacidade de se comunicar. Um olhar sim, pode falar mais do que palavras. Nessa nossa era virtual de msn, twitters, blogs e sms, o silêncio, o olhar, a comunicação não-verbal foi vencida pela facilidade e a neutralidade de palavras digitadas. Não posso perceber a emoção por detrás de um torpedo. Uma mesma frase pode ser compreendida de inúmeras formas dependendo da entonação em que é colocada. E se eu leio essa frase, vou dar a ela a entonação que eu imagino, e daí começam os problemas. A falha na comunicação. As pessoas conseguem se expresssar melhor por palavras escritas do que pelas faladas e quando se veem frente a frente não conseguem nem mesmo se olhar nos olhos.

Não sei. Não tenho conclusões. Só acho que hoje vou passar o dia refletindo sobre isso. Sobre o prazer de ser escutada, sobre o prazer de perceber um gesto de alguém que me emocione, e também sobre os silêncios com os quais temos que conviver para nos ouvirmos melhor.

E agora, pensei: será que eu consegui comunicar o que eu pretendia através dessas palavras?

...

5 comentários:

Daniel disse...

ouvir é quase uma arte, não adianta pintar o quadro sem saber contemplar a tela do outro. e vice-versa. por muitos anos eu observava quadros sem nunca mostrar os meus. até mostrava, mas só com muita insistência. depois de um tempo aprendi que temos que mostrar aquelas telas que acabamos guardando na garagem quando temos vontade, não apenas quando aparece um marchand interessado.

e se tu continuar escrevendo com tanta propriedade eu vou fechar meu establoguecimento. o lado bom é que eu já não preciso falar e/ou escrever pra tu me entender. ;]

Luciane Slomka disse...

Adorei da metáfora da pintura. E como é bom quando a gente comeca a descobrir e reconhecer pessoas que trazem novas cores a nossa palheta para deixar nossos quadros mais bonitos. Não para nunca de mostrar os teus...
E principalmente nem pensar em parar com teu blog. Mas com certeza não preciso dele para te entender :)

Henrique Crespo disse...

Realmente vejo mais monólogos do que diálogos. tenho a impressão de que isso tem a ver com a falta de interesse que as pessoas tem no Ser Humano. Ouvir o outro passa pela real interesse que podemos ter no outro. No outro específico mas também no outro como Ser.

O silêncio é valioso, pode dizer muito, algumas vezes ela é necessário e forte mas é preciso tomar cuidado no silêncio como forma de testar o outro. Digo, como se ao usar o silência estivéssemos propondo uma espécia de charada. E o pior é que essa charada é lançada sem ao menos o outro saber se trata disso.

Marilu disse...

Muito lindo e verdadeiro o que os dois 'premos' escreveram :) As palavras de cada um ficaram registradas!

Ambos tem maestria em 'perceber' e escrever ;) Mantenham seus blogs, são nossa fonte de inspiração e entretenimento!

E viva a vida que permite que o artista e sua fonte de inspiração juntem suas palhetas e a arte na sua expressão mais pura e verdadeira se manifeste!
Bjos queridos :)

Luciane Slomka disse...

Oi Rick. Muito real isso que tu falou sobre usar o silêncio como teste. Às vezes esperamos que o outro advinhe nossos pensamentos edesejos, aí que começam muitos dos problemas de comunicação.

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Marilu, que amor tu! E lindo o que tu escreveu. Bjao!