segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Segunda-feira


Hoje é segunda-feira e um menino de 16 anos está prestes a morrer.

Hoje é segunda-feira e sei que inúmeros outros meninos, meninas, homens e mulheres também devem estar prestes a morrer. A diferença é que esse menino de 16 anos me conhece. Esse menino já pegou na minha mão. Esse menino já chorou comigo, revoltado por não poder mais jogar vôlei, ir ao shopping com os amigos, namorar.

Hoje é segunda-feira e já que sei que esse menino está prestes a morrer, nada mais parece ser assim tão importante. A reciclagem de lixo, a camada de ozônio, a globalização, os jogos panamericanos, a política. Tudo parece tão pequeno e ao mesmo tempo é dessa pequeneza desse mundo fútil e até bobo que esse menino de 16 anos já sente falta desde que adoeceu. Ele queria poder ter direito de viver toda essa bobagem que a gente vive. Toda essa futilidade televisiva e digital. Toda essa preocupação que a gente adquire quando cresce: trabalho, contas a pagar, prestações,... Futuro. Essa bobagem toda que se chama ilusão de futuro e que tanto nos angustia. Ele se preocupa com essa nossa estúpida ausência de futuro que ele percebe diariamente, estar se esvanecendo.

Hoje é segunda-feira e me dá um vazio no peito ao me sentir pequena e impotente perante esses caminhos que a vida vai nos oferecendo. Sei que a vida é assim, que essas coisas acontecem. Sei também que fui eu quem escolhi estar frente a frente com essa verdade, de forma diária e constante.

Mas eu sei que hoje é segunda-feira e que eu tenho a doce ilusão de ainda ter muitas segundas-feiras a minha espera. E eu sei que nessa história toda o que me entristece é o fato  de que, mais do que eu conhecer esse menino de 16 anos que está prestes a morrer, ele me conhece. Ele me olhou nos olhos e nesse olhar ele me roubou mais um pouco da minha ingenuidade. Mais um pouco da minha inocência. Isso me endurece um pouco ao mesmo tempo que me adoça. É dificil explicar. Eu não tenho medo da morte. Eu tenho medo é de não percebe-la e de não criá-la, para que quando ela chegue eu não seja pega desprevenida, em uma segunda-feira qualquer.

Hoje é segunda-feira e um menino de 16 anos está prestes a morrer.

Hoje é segunda-feira e, talvez, quem sabe, hoje, a vida faça um pouco menos de sentido. E faz?