quinta-feira, 24 de março de 2011

Contra um mundo melhor

Os livros mais legais que eu já li tem em sua lista vários que foram encontrados por mero e maravilhoso acaso, sem nenhuma intenção ou indicação prévia. Com esse a história se repete. Aleatoriamente vendo livros em uma livraria me deparo com esse título que já me conquistou de imediato: "Contra um mundo melhor", de Luiz Felipe Pondé. Interessante título, pensei. Dei uma folheada, vi que eram ensaios de um filósofo. Mais interessante ainda. Arrisquei e comprei.

Ontem comecei minha leitura naquela hora ingrata antes de adormecer, quando pegamos um livro só por aquelas poucas linhas que rapidamente vão trazer nosso sono para a margem e o livro termina se fechando minutos após ter sido aberto. Dessa vez foi diferente. Li metade do livro e só fechei porque meu superego me obrigou a pensar nas poucas horas de sono que eu teria se não fosse logo dormir.

Ele é ácido, é crítico e nos faz repensar nossa dita ética, nossa moral, nossa eterna necessidade de aprovação. Ele defende o nosso caos, ele protege nossa infelicidade e nos permite rir de nossas humanas mesquinharias. Seguem alguns trechos que me impactaram:

"Somos escravos da felicidade, mas é a infelicidade que nos torna humanos"

"Sim, eu acredito na infelicidade como matéria de vida. Não que a procuremos, nem precisa, ela nos acha, mas creio na infelicidaqde como medula, espinha dorsal de nossa dignidade. A infelicidade é a lei da gravidade que reúne os elementos que compõem nossa personalidade. Imagine se Hamlet só quisesse ser feliz?"

"De lá para cá, a moda de todo mundo ser indivíduo gerou, na realidade, grande inveja e ódio por quem de fato é individuo e suporta a solidão de sê-lo. Além do mais, a midia e a arte vendem modelos de individualidade nas liquidações de material de autoajuda, infestando o mundo de idiotas ruidosos enquanto os verdadeiros e infelizes individuos se escondem pelas florestas das cidades, como uma espécie caçada, em extinção"

"Proibiremos tudo que um idiota científico considerar inútil para o sucesso físico. Algo se perde nessa dança miserável. O que se perde é o fato de que a vida é desperdicio de si mesma. Sua grandeza está em perde-la, como ja dizia a sabedoria do Evangelho, e isso nao mudou. A tentativa de conte-la nos limites da "ciencia da nutrição" não passa de um modo hipócrita de negar o principio da vida - que é se multiplicar, se esvaindo, se perdendo, como que sangrando para gerar. O que alimenta a busca da saúde total é a velha e feia ganancia como qualidade de carater. Quando me encontro em jantares inteligentes em que tudo é organico e equilibriado, me sinto entre vamprios que sugam o mundo, em vez de se oferecer a ele como alimento permanente da vida".

segunda-feira, 21 de março de 2011

Protesto

Uma criança aqui fora grita em bom som: "não quero mãe, eu não quero!" e tudo isso acontece enquanto eu me pego a pensar sobre as não respostas e a nossa total inabilidade de sabermos quais são as perguntas.

Não acho que somos bons em comunicação, não acho que conseguimos ter discernimento suficiente do que sentimos e quando sabemos o que sentimentos não sabemos diferenciar o que pode ou não ser falado. E calamos tantas vezes. E calando agredimos e somos agredidos por nossos pensamentos sufocados.

Quando eu penso que aprendi a pensar eu sempre lembro de algo ou vivencio alguma situação que me traz de volta a essa simples dificuldade de sermos gente. Não acho isso bom nem ruim. É apenas fascinante o quanto, ainda assim, é apaixonante ser gente, tentar se comunicar, tentar expressar o que sentimos para quem devemos, dar-nos conta da nossa limitação e da nossa dificuldade de gritarmos para o mundo parar quando a gente precisa.

Não que ele pare, porque ele obviamente não para. Mas é bom gritar, não é?

terça-feira, 15 de março de 2011

Imprecisões preciosas

É preciso que haja alguma explicação nessa vida para essas coisas sem tamanho e sem medida. Sei lá que dias são esses em que a gente se acorda questionando o porquê disso aqui tudo, o porque da saúde, da doença, da vida, da morte, dos desastres, dos milagres e de como a gente faz para seguir respirando.

Eu entendo das nesnecessidades e das futilidades e sei que isso tudo é caminho. Respeito as imprecisões e sei que são justamente elas as responsáveis por nos levarem aos melhores destinos.

Mas tem dias que as não regras e as não ordens me perturbam e me deslocam. Nesses dias eu queria algum tipo de bula, algum tipo de ordem, algum tipo de rota. E o mais incrível de se descobrir - e só sei agora - é que essa sensação de uma desolação pequena, sutil, simplesmente aquele pedaço da gente que se pergunta o porque disso tudo, acontece sempre (a quem se deixa), independente de estarmos felizes, completos (hein?), com o coração bem ocupado, com uma profissão bem definida e bem escolhida. Essa inquietude não se resolve como prêmio de consolação para quando a gente atinge essa tal serenidade. Talvez porque essa imprecisão que eu sinto agora seja boa, seja vital, seja o que tenha me feito voltar aqui de novo.

Eu sei que a imprecisão é preciosa. Mas hoje, só por hoje, eu queria um porto seguro para descansar do meu navegar.