sexta-feira, 19 de junho de 2009

Obrigada, Rilke

"Por isso, prezado senhor, eu não saberia dar nenhum conselho senão este: voltar-se para si mesmo e sondar as profundezas de onde vem a sua vida; nessa fonte o senhor encontrará a resposta para a questão de saber se precisa criar. Aceite-a como ela for, sem interpretá-la. Talvez ela revele que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite sua sorte e a suporte, com seu peso e sua grandeza, sem perguntar nunca pela recompensa que poderia vir de fora. Pois o criador tem de ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si mesmo e na natureza, da qual se aproximou.

Mas talvez, depois desse mergulho em si mesmo e em sua solidão, o senhor tenha de renunciar a ser um poeta (basta, como foi dito, sentir que seria possível viver sem escrever para não ter mais o direito de fazê-lo). Mesmo assim não terá sido em vão o exame de consciência que lhe peço. Seja como for, sua vida encontrará a partir dele caminhos próprios, e que eles sejam bons, ricos e vastos é o que lhe desejo mais do que posso manifestar.

O que ainda devo dizer ao senhor? Parece-me que tudo foi enfatizado da maneira apropriada; por fim, gostaria apenas de aconselhá-lo a passar com serenidade e seriedade pelo período de seu desenvolvimento. Não há meio pior de atrapalhar esse desenvolvimento do que olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranqüila."

Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta.

4 comentários:

Dona ervilha disse...

Gosto muito. Tenho uma história 'particular' sobre este livro. Coisa bem boa isso, hein?!

Luciane Slomka disse...

coisa muito boa mesmo! Tambem surgiu a mim naqueles momentos "perfeitos". Uma leitura indispensável... Por onde andas, menina? Precisamos de novos eventos literários para nos reencontrar! Bjo!

Lua em Libra disse...

Ah, Lu querida

que presente, esse trecho do Rilke! Chegou-me na hora certa, sabia? Beijo e saudade, guria.

Luciane Slomka disse...

Que bom, CeciLia querida! Saudades tuas também!
Beijão!