quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Resiliência: A saga (Parte III): Escolhas, renúncias e responsabilidade


Depois de muita correria, horas na frente do computador, horas de trabalho com o estatístico, chegou a hora de encarar meu orientador, que, de um jeito extremamente afetivo me disse que minha dissertação do mestrado precisava de mais análises, mais estatísticas e consequentemente mais tempo, o que era a única coisa que eu não tinha.

Amanhã, dia 30, seria o dia em que eu teria que estar entregando minha dissertação. Foi então que com a ajuda dele eu tomei a decisão: trancar meu mestrado por um semestre, trabalhar com tempo e dedicação na minha dissertação a partir de março e defender em agosto. Parece simples, mas não foi fácil. Foi uma decisão que trouxe como implicação lidar com a frustração de não conseguir cumprir um prazo, a sensação inevitável de que não dei conta das minhas responsabilidades, etc. Mas o saldo final também foi de alívio, um imenso alívio.

O dificil e o que acho que realmente torna útil postar isso aqui, é a sensação que fiquei depois, quando comecei a contar às pessoas sobre minha decisão: era como se eu ficasse esperando que as pessoas me dissessem: "Que coisa boa, Lu", " Fez muito bem, não tem problema esperar mais um semestre!" Mas ninguém me disse isso. Porque ninguém tem obrigação de dizer isso e porque ninguém sabe de fato o que se passava dentro de mim em relação a isso.

Foi então que essa escolha fez reverberar tantos sentimentos em relação a tantas outras escolhas que já fiz e que são feitas todos os dias por mim e por cada um de nós. Será que fazemos nossas escolhas totalmente isentos da opinião alheia? Por que se torna tão importante a aprovação dos outros quando tomamos uma decisão? Precisamos de cúmplices que tornem nossas decisões coletivas ao invés de individuais e, portanto, as consequencias delas também?

Decidir nunca é fácil. Escolher um caminho, abandonar alguma coisa, fechar um apartamento para pensar num objetivo a longo prazo, terminar ou começar uma nova relação, mudar de emprego ou se atirar de cabeça no que se está. Mudar de cidade ou ficar na que se conhece. Toda escolha inplica em perda, em renúncia. E o complicado é que conhecemos o que estamos perdendo mas muitas vezes ainda desconhecemos o que iremos ganhar. Então fica aquela incógnita: Largo o certo, o garantido pelo duvidoso? E o mais curioso é que tem pessoas que se apegam ao garantido mesmo quando ele já não serve mais, quando não traz mais alegrias. Mas as vezes a segurança da monotonia supera o desejo pelo novo e as surpresas do incerto, mesmo que exista a promessa de uma vida melhor nesse terreno desconhecido.

É só uma postergação de 6 meses. Uma escolha banal. Mas nao é simples assim. Eu tomei uma decisão que é minha. Ninguém tem nada a ver com isso. Sou eu comigo mesma e encarando as consequencias dos meus atos sem ter ninguem a resposabilizar além de mim mesma. E foi só em relação ao mestrado mas a partir de agora vai ser em relação a tudo que eu escolher.

É, não é fácil ser adulta. Assumir responsabilidade pelas escolhas. Mas é o unico jeito de se crescer. De aprender de fato e parar de culpar aos outros quando alguma coisa dá errado e poder olhar para si próprio e saber onde se errou ou acertou.

Erros, acertos, ganhar ou perder. Quem saberá? Os dados estão lançados e cada um vai escolhendo e vivendo como pode.

Boa sorte a todos nós.

3 comentários:

Kelen disse...

Acho que esta frase diz tudo: "conhecemos o que estamos perdendo mas muitas vezes ainda desconhecemos o que iremos ganhar"

Me senti parte deste post, mas como tu mesmo disse, o que são 6 (ou 7) meses pra quem tem uma vida toda pela frente?

Marilu disse...

PremaLU
mais um brilhante tópico comentado!
É isso aí, crescer é ter o direito de optar e assumir a responsabilidade pelas opções feitas,
faço chuva ou faça sol :)

Nem sempre postegar algo é sinônimo de fracasso, somos humanos, temos nossos limites ;)

Assim como a auto-crítica é a mais
feroz, assim tbém a auto-compreensão é o melhor carinho!

Dê tempo ao tempo, verás que a decisão que vc tomou foi a melhor escolha! Com certeza tua dissertação vai ficar mais completa e você a defenderá com muito mais propriedade e qualidade!

Bjos querida!

Luciane Slomka disse...

Sim, Kelen, com certeza tu é parte desse post. Na verdade todo mundo acaba se vendo um pouco nesses dilemas. Tu tem toda a razão...é essa vida toda pela frente que nos espera! ;)
***
É isso, premarilu. Auto-compreensão e auto-cuidado também são aprendizados importantes... Obrigada pela força!