quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mind trip


Ontem eu dirigia a caminho de casa e parei na sinaleira ao lado de uma agência de viagens. Os cartazes afixados nas janelas ofereciam propostas tentadoras: pacotes para o Peru, para a Europa, Ásia, etc. Ver aquilo me deu uma vontade imensa de viajar, de sair. Tudo bem, várias obrigações e atividades que têm me tirado o sono justificariam qualquer desejo de "sair fora", jogar tudo para cima e me afastar dessas tarefas da so called vida adulta.

Mas não foi por isso que senti esse desejo de viajar.

Senti saudade da sensação que uma viagem me desperta e que sempre adoro. Amo perceber que ao estar em algum lugar estranho eu sou tudo com o que conto, que minha identidade é o meu corpo, as poucas roupas e acessórios que trago na mala e meus pensamentos, meu mundo interno.

Parece bobagem, mas não é. Aqui, em casa, na minha cidade, várias coisas definem minha identidade: meu local de trabalho, minha família, minha gata, espaços físicos onde circulo: minha casa, o parque, as ruas. Me encontro um pouco em cada lugar onde vou. isso é importante, claro, pois dá uma sensação de segurança, constância e acolhida nesse mundo louco em que vivemos.

Numa viagem é diferente. Não estou em lugar nenhum além de mim mesma. E isso permite com que eu me conecte com partes de mim que muitas vezes estão mais no "fora" do que no "dentro". Eu absorvo a viagem, eu incorporo as novas coisas que observo e aprendo à minha identidade. E isso é fantástico. Tem uma linda crônica do Rubem Alves que eu amo que se chama "Não viajei", onde ele fala que muitas vezes não adianta fazer grandes viagens se não desembarcarmos de nós mesmos, e que podemos fazer grandes viagens sem sair de nossa casa.

Adoro isso. Mas adoro pegar um avião e sentir esse estranhamento, sair do meu lugar, perder minha identidade concreta para me perder em novos cenários e quem sabe, cada dia um pouquinho mais, me encontrar de verdade.


"Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar."

Cecília Meireles

5 comentários:

Beth disse...

Amei essa postagem Lu!
Dei uma entradinha aqui antes de escrever no meu blog!
Estás cada vez melhor!

Muitos beijos!

Luciane Slomka disse...

Valeu, amiga! Vamos nos inspirar!! Beijão e um grande ano para nós!

Henrique Crespo disse...

Curioso, outro dia mesmo estava pensando algo que de maneira indireta tem a ver com isso. A idéia de perder a memória e a partir daí poder ser qualquer coisa. Se reconstruir. Sim, porque a memória talvez seja a nossa parte mais definidora.

Anônimo disse...

Oi Luciane, adorei o teu texto e me identifiquei muito com o mesmo durante a leitura... É impressionante como brilhamos de forma diferente durante uma viagem, chutamos o superego pro alto, ligamos o f.-se e o melhor de tudo é que saímos ganhando SEMPRE... Senti isso na pele, concordo plenamente contigo!
PARABENS PELO BLOG!!! =)

Luciane Slomka disse...

Rick, muito legal essa tua idéia também. Tem toda a razão. Memória nos nutre mas muitas vezes pode nos aprisionar também, impedir de ser novo. Ótimas tuas visitas! :)
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Oi Pedro, bem-vindo! Ainda sou novata nesse mundo dos blogs, mas já curtindo bastante. Apareça! :)