quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tatuagem

A cena começa comigo, esperando uma amiga para almoçar em uma calçada agitada dessa cidade, com meu passatempo predileto que é observar as pessoas passarem, cheias de brincos, óculos que escondem o rosto e passos perdidos ou achados.

Foi então que olhei o pé de uma mulher, que vestia um scarpin, e na parte de cima do pé, meio para o lado, uma tatuagem com alguma palavra escrita com uma estrelinha em cada lado. Parecia aquela tatuagem da Deborah Secco? Ou então da Carolina Dieckman? Ou então da sei lá quem que se apaixonou por sei-lá-que-outro-quem, mas já apagou com laser. Fiquei pensando nesse lance de tatuagem e logo peguei meu caderninho de devaneios para escrever.

A tatuagem surgiu e propagou-se como algo que vendia a idéia de tornar o corpo algo inédito, algum desenho que tornasse aquele corpo único, com uma marca, um nome ou um desenho que o diferenciaria de tantos outros corpos comuns. Mais do que isso: com um significado para aquela pessoa. Um sentido. Mas, como tudo que nasce com um propósito inicial, isso se subverteu e hoje vemos as mais malucas motivações que levam as pessoas a desenharem-se para a eternidade que o corpo durar.

Mas fiquei pensando que o propósito original já deixou de exisitir há tanto tempo... Porque agora nada mais é original. Desde que a Gisele fez, ter uma estrelinha no pulso já é tão comum quanto ter dois olhos e sobrancelhas. Peraí, mas a idéia não era ser original?

Pois é.

Isso foi o que me levou a pensar que na verdade, pouquíssimas pessoas desejam mesmo ser originais, diferentes. No fundo todo mundo quer ser réplica, quer reproduzir o que já "deu certo" ou o que já está na moda. Me deu uma pena daquele pé, de tantos pulsos, de partes de trás da cintura com o tal "Made in Brazil". Além do mais, fico aqui pensando que necessidade é essa de carregar o nome de alguém que amamos ou então de dizer uma frase que nos faz sentido, escrito na pele. O que interessa é o que está escrito na alma. Isso sim é eterno. Essa tatuagem é que dói para fazer, dá orgulho e quando temos que apagar, por alguma razão, dói muito mais do que qualquer raio laser. O que tatuamos na alma sim é eterno...

Mas não pensem que sou contra a tatuagem. Pelo contrário. Eu também tenho uma. Que tem um significado especial para mim e que sei porque a fiz. É pequena, simples e quem me conhece sabe o significado que tem para mim. Mas as da minha alma, essas também são poucas, as que são eternas. E estão comigo e não me arrependo de nenhuma delas.

E já que o tema parece meio bobo, termino com um bom Chico, que torna tudo profundo e belo sempre...
.:.
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem

(...)

Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço

6 comentários:

Kelen disse...

Eu carrego seis tatuagens. 5 delas, símbolos que me representam de alguma maneira. E a sexta, justamente uma frase, que carrega aquilo que desejo pra mim. E cada vez ela faz mais sentido. Talvez por estar não só tatuada na pele mas também na minha alma.
"Y que sea lo que sea".
:)

Luciane Slomka disse...

Eu lembrei de ti quando escrevi a parte da frase. E sinceramente conheço poucas pessoas que carregam uma tatuagem com tanta verdade como tu carrega a tua!
Dale!

Késia Maximiano disse...

Tem coisas q ficam mecânicas com o passar do tempo...
Mas concordo plenamente com o q vc disse: As melhores tatuagens estão na alma. De uma forma particular e única, elas sim, são as verdadeiras marcas que fazem com q a nossa história seja tão NOSSA!!!

Beijão!

Luciane Slomka disse...

Oi Késia! Obrigada pela visita e pelo comentário!

Tens razão: são as nossas tatuagens da alma que formam quem somos. E essas não precisam ficar expostas para o mundo, não. Essas a gente só mostra a quem merece e a quem for sensível para enxergá-las, não é?

Bjo!

Lara Amaral disse...

Também me pergunto a mesma coisa sobre moda, nem me fale... Sem contar que cada novela da Globo é uma tendência diferente, me dá uma preguiça, hehe...

E quando vi o título do seu texto, logo lembrei da música do Chico, linda demais.

Um abraço!

Luciane Slomka disse...

obrigada, Lara! Bjo!