sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O enredo mortal

Sou escritora, sou imaginativa e sou poeta sempre que posso. Na minha cabeça cabem sonhos, fantasias e devaneios. Sei que sempre fui pouco realista, que sempre habitei o terreno dos sonhos e que já machuquei quem fez parte de minhas criações.

Eu nunca quis ferir ninguém, nunca quis tornar ninguém principe encantado ou bruxa má. Os personagens são todos partes de mim, são projeções das minhas ilusões. Foi então que caí na realidade e me machuquei feio. Caí na realidade e vi pessoas de verdade ao meu lado. E pessoas de verdade não são como desenhos animados. Não são como o coiote que persegue o Papa-Léguas ou o Tom que persegue o Jerry. Eles não são esmagados, queimados, jogados de abismos e sobrevivem. Não. Pessoas reais morrem. Se machucam, se ferem. E cansam. E desistem.

Sempre fui Papa-Léguas porque corria e escapava. Sempre fui Jerry porque provocava e me entocava. Mas me dei mal.

Porque a vida não é um desenho animado; a vida não é novela. E o enredo que criei para a minha história até aqui não me deu audiência. Pelo contrário. Me enredei em meu próprio enredo e sufoquei. Na verdade eu sei a quem todo esse enredo foi dirigido. Mas nem mesmo ela viu. E eu já paguei caro demais por essas linhas tortas que fui escrevendo, só para tentar provar que sou uma criação animada para não dar certo.

Eu não sou cartoon. Eu sou real. Chega de escapar, chega de correr. Preciso saber quem fica ao meu lado se eu for constante e presente.

Não quero mais enredo nenhum.

Sou livre, real e mortal.

*Trilha sonora do devaneio: "Estrela, estrela" do Vitor Ramil

10 comentários:

Sick Boy disse...

Já que gostas de música. Acho que essa pode ter um pouco disso tudo.


"A vida não é filme, você não entendeu
Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu
Sabendo o que passava no seu coração
Se o que você fazia era certo ou não
E a mocinha se perdeu olhando o Sol se por
Que final romântico, morrer de amor
Relembrando na janela tudo que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu

E assim
Tanto faz
Se o herói não aparecer
E daí
Nada mais

A vida não é filme, você não entendeu
De todos os seus sonhos não restou nenhum
Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu
E só você não viu, não era filme algum
E a mocinha se perdeu olhando o Sol se por
Que final romântico, morrer de amor
Relembrando na janela tudo que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu

E assim
Tanto faz
Se o herói não aparecer
E daí
Nada mais

E assim
Tanto faz
Se o herói não aparecer
E daí
Nada mais".

Luciane Slomka disse...

Tem realmente tudo isso nessa música...bem apropriada para o momento.

Anônimo disse...

Lu, a mudança de ótica em torno de seu desenvolvimento na emoçao, produz a reduçao de mascáras sob as quais oculta-se o danoso inimigo.

Luciane Slomka disse...

Tive que ler mais de uma vez para tentar entender o palavreado. mas tenho que te dizer que não é nas máscaras que está o inimigo. o inimigo está mesmo é atrás delas. A gente usa as máscaras pra ficar tentando não deixar que o inimigo apareça, quando na verdade somos nosso pior inimigo. O mais danoso de todos.

Nádia Lopes disse...

ah, Lu
já sei há tempos que somos roteiristas, diretores e atores disso tudo...e temos por trás algum objetivo não tão claro, qual a moral da historia? Que seja crescermos, que seja uma tal felicidade merecida...beijo

Wania disse...

A vida é real e não permite que usemos a tecla REW (rewind) para reformularmos o roteiro!
Aqui, infelizmente as "quedas" são de verdade e doem pra valer, mas tem o lado bom, quem fica do nosso lado tb é de carne e osso!

Bjão, Lu!

Lua em Libra disse...

Lendo aqui, minha linda, e pensando que a minha máscara de Mafalda era tão perfeita... risos e beijos, obrigada pela solidariedade lá no Divã do Lua.

Lara Amaral disse...

Pois é, e quando formos reais, e os outros entenderem o nosso lado humano, quem ficará ao nosso lado?
Muito bom, Luciane!

Abraços!

Renata de Aragão Lopes disse...

Que bacana a ideia
de se intitular Papa-léguas e Jerry,
para sugerir, em verdade,
um tema tão sério:

sim, não somos desenhos,
mas seres vivos e, logo, mortais
- o que não nos impede, porém,
de sermos animados!

Um pouco de fantasia
não faz mal a ninguém...

Beijo, sábia "guria"! : )

Luciane Slomka disse...

Obrigada meninas! Gostei da idéia Re, não somos desenhos, mas podemos e devemos ser animadas, sim! Beijão e obrigada a vocês!