segunda-feira, 9 de março de 2009

Jukebox

Minha vida anda parecendo muito com os episódios da minha série favorita. Parece que cada dia apresenta uma lição ou assunto sobre o qual eu tenho que refletir, aprender ou rever.

Hoje eu acordei pensando na repetição. Em termos técnicos psicanalíticos, na Compulsão à repetição. Todos temos esse potencial e essa necessidade. Quantas vezes nos enxergamos repetindo atitudes, padrões de comportamento dos quais a gente luta tanto para fugir, fazer diferente, e quando nos damos por conta, pronto. Lá estamos nós, na mesma situação de antes, no mesmo tipo de relacionamento, no mesmo tipo de briga, tendo as mesmas reações diante dos mesmos problemas, discutindo sobre as mesmas coisas. Empacados.

O grande problema é que as repetições vêm muitas vezes camufladas. O ser humano é inteligente não só para seu benefício mas também para o prejuízo. Às vezes nos boicotamos e mascaramos as repetições que nos prejudicam para não vê-las.

"Mas como somos burros" podemos pensar.

É verdade. Somos bastante burros. A neurose é burra. Mas ela tem um propósito. Cada um de nós tem uma maneira única de se defender na vida, de proteger o próprio psiquismo das maluquices e dificuldades que todos enfrentamos diante da vida.

A gente só vai parar de repetir quando elaborar o conflito que a repetição quer nos mostrar. A gente só repete porque precisa resolver. Porque precisa aprender algo. Enquanto não resolvermos, vamos seguir repetindo os mesmos conflitos, apenas com uma roupagem diferente. E quem se trata sabe o quanto dói perceber que estamos fazendo as mesmas coisas de novo. Não é por mal, não é por fraqueza. É porque simplesmente não é fácil viver. Não é fácil modificar padrões de comportamentos que adotamos há tantos anos e que, bons ou não, nos serviram, nos são conhecidos.

A mente humana é complexa. Nossas neuroses nos beneficiam, de alguma forma. Porque a gente ainda não consegue vislumbrar a vida sem essa repetição antes de modificá-la e perceber o quanto é bom!
É a vida na próxima faixa do disco. Se eu só conheço uma melodia será nela que eu vou me sentir confortável, e é nesse ritmo que eu sei dançar. Mas ficar repetindo a faixa não faz trilha sonora. E a mesma música enjoa. Cansa. Dançar sempre do mesmo jeito perde a graça. A vida perde o encanto.

Eu venho tentando, venho aprendendo. Eu avanço, repito, retrocedo. Enquanto isso vou dançando como posso.

Enquanto eu ainda tiver moedas, minha trilha sonora prossegue.

P.S. E nesse momento, na minha jukebox tá rolando um Parabéns a Você


5 comentários:

Flavio Ferrari disse...

Gestalt, Neurose de Destino ... escolha o autor ...
Nada como uns aninhos de psicanálise para sair dos ciruculos viciosos...

Nádia Lopes disse...

Oi,Lu
teu mano escreveu bonito sobre auto-crítica lá no convulsionando e tu também bonito sobre essas repetições antes da cura, talvez a soma das duas impressões sejam o tal caminho do meio que o budismo prega...A gente repete até estar pronto pra dar o próximo passo e a gente deve ser gentil conosco nesse aprendizado, é importante nutrir uma sensação incômoda diante da estagnação, mas é fundamental não se cobrar além... é com um passo de cada vez que faz o caminho...beijos

Luciane Slomka disse...

É mesmo, Flávio. E esse é um eterno exercício, um eterno olhar-se.
**
É isso sim, Nádia. Um passo de cada vez. tentando achar esse equilíbrio delicado entre a não estagnação e a não cobrança em excesso. Mas quem disse que crescer era fácil? Beijo!

Wania disse...

Se ficar expert na dança de uma só música nos satisfizesse não haveria tantos infelizes pelo salão.
A terapia nos convida a experimentar não só outras músicas, como também outros passos.
Verdadeiro e profundo teu texto. Muito lindo! Bj.

Daniel disse...

quer dançar comigo?