sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quantas vidas cabem em uma vida?


"Eu como um rio,
fui desviada por esses duros tempos.
Deram-me uma vida interina
E ela pôs-se a fluir num curso diferente,
passando pela minha outra vida
e eu já não reconhecia mais as minhas margens."

.:.
Esse é um trecho de um poema da Anna Akhmatova, poeta russa. Essa mulher marcou minha vida com esse poema, sem que eu me desse conta. Graças ao meu sempre mestre Charles Kiefer.

Foi numa tentativa de sarau literário idealizado por ele, meu professor no colégio, que fui apresentada a Anna. Eu, uma adolescente romântica e entusiasmada, recebi dele esse poema para que eu declamasse no sarau. O sarau nunca saiu, fruto de uma falta de espaço (mental) e compreensão da escola que não tinha condições de ter naquele momento um evento de tal grandiosidade. E esse poema nunca saiu de mim. Mas eu demorei anos para perceber isso. Eu, na época, li, reli, para tentar decorá-lo e sentí-lo para recitá-lo. Nunca saberei se eu teria conseguido ou não essa façanha de declamar um poema de tal complexidade.

Fico aqui pensando como será que meus olhos adolescentes liam esse poema. O que ele significou para mim lá naquela época. Agora, devido a essas "coincidências" da vida, descobri que na biografia do Modiagliani existem referências a ela. Não sei qual era a possível relação entre os dois. Só sei que hoje à tarde vou voando até a livraria Cultura para adquirir a biografia dele e livros de poemas dela, porque eu ainda não reencontrei esse meu poema completo. E agora sinto que preciso resgatar ele. Sinto que preciso conhecer a história dessa poeta.

Porque é assim, costurando histórias e vidas que nos fazem sentido que vamos dando novos caminhos às nossas.

P.S. Se alguém souber o nome desse poema ou tiver acesso a ele por favor me enviem!

7 comentários:

Marcelo Novaes disse...

Luciane,


Muito bom o trecho do poema, e rico esse momento de enxergar que pode/precisa rever algo marcante com olhos de agora.

;)

Boas leituras!




:)







Beijos,








Marcelo.

Renata de Aragão Lopes disse...

Ei, Lu!

Eu sempre vasculho
todas as vezes
em que solta uma dica! : )
Foi assim
que adquiri uma linda tela do Madu Lopes
e o livro do Forbes.

Não sei se buscou na internet
algo sobre essa escritora.
Encontrei um pouco sobre a vida dela.
E me deparei
com esses impactantes versos
que não sei se conhece:

Noite - Viétcher
(publicado em 1912)

"Ele gostava de três coisas neste mundo:
o coro das vésperas, pavões brancos
e mapas da América já bem gastos.
Não gostava de crianças chorando,
nem de chá com geléia de framboesa
e nem de mulheres histéricas
...e eu era a mulher dele."

Affonso Romano de Sant'Anna,
autor que admiro
disse que, na vida de Anna,
couberam três.
Todas sofridas,
ao que me pareceu.

Achei o poema que você citou
na íntegra, embora sem título,
em uma postagem antiga no blog:

http://angeleinsof.zip.net/arch2004-09-01_2004-09-30.html

Um beijo pra você
e excelente estudo a respeito!

Luciane Slomka disse...

Oi Marcelo! Obrigada! Ainda há tanto por ler... Apareça! :)
***
Oi Re! Que bom saber que posso estar agregando coisas boas por aí...li esse ensaio do Affonso tambem nas minhas buscas...ela teve mesmo uma vida bem sofrida dentro dessas 3 que ele refere... Agora é só a gente se deliciar nas leituras dos poemas dela e de outras descobertas que ainda estão por vir, né?
Beijao!

Unknown disse...

Escrever pra crer....

Gostei desse jardim!

Um beijo

Dona ervilha disse...

Que lindo o poema... eu vou ficar atenta e se encontrá-lo, te mando como um presente, tá?
.
.
"Porque é assim, costurando histórias e vidas que nos fazem sentido que vamos dando novos caminhos às nossas".
É bem assim que eu sinto também. Aleluia.

Nádia Lopes disse...

oi, Lu
lindissimo esse poema e essa sacação de se reler em outro tempo com novos olhos, acho que já fiz esse comentario, mas por alguma razão não apareceu aqui...beijo grande e segue o rio...
beijo

Luciane Slomka disse...

Oi Luana! Bem-vinda! Que bom que tu gostou daqui! Volte mais vezes e vou lá te visitar também! Beijo!
***
Aluia, irmã! Saudades tuas! Achei o poema inteiro, comprei a antologia dela. Depois posto aqui! :*
***
To seguindo o rio sim, Nádia, sem bote e sem bóias. A nado mesmo! :) Beijão!