sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

...

E de repente a morte, essa do não mais respirar ou existir, virou coisa pequena e boba. Quando ela percebeu que existe bem mais dor do que a de sufocar e que o coração pode doer mas também gozar muito mais até a hora em que resolver parar, começou a sorrir. E o lenço que envolvia suave seu pescoço alvo voou e foi pousar delicado e solene na grama que ela pisava e tudo começou a ter sentido. Ela fumava, e ficava a suspirar que a vida lhe intoxicava. Ela bebia, e esbravejava que a vida lhe embriagava. Mas nada disso era correto. A única certeza que agora ela carregava era o vento, e foi nesse instante que ela percebeu o óbvio: de que os olhos secam quando não piscamos, de que a garganta seca quando não aprendemos a calar. E ela calou, e piscou. Sentou, respirou, sentiu o batimento do próprio coração e começou a viver.

The second second

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A duração do que é belo

Mundo velho
E decadente mundo
Ainda não aprendeu
A admirar a beleza
A verdadeira beleza
A beleza que põe mesa
E que deita na cama
A beleza de quem come
A beleza de quem ama
A beleza do erro
Puro do engano
Da imperfeição...

(Zeca Baleiro)

Fazer as unhas uma vez por semana. As dos pés a cada 2 ou 3. Escova eventualmente. Luzes para quem precisa ou deseja. Corte para a duplicidade das pontas. Depilação a cada 2 ou 3 semanas.

Tempos curtos, processos chatos, paciência. Estraga a unha. Salão lotado. Pagamos caro. Unha encravada. Esmalte descascado. Pelo encravado. A vida encrava mas eu não sou escrava.

E me peguei pensando, saindo da manicure, na efemeridade desses rituais de beleza e no quanto custam caro, em termos de tempo, dinheiro e paciência. A gente faz as unhas hoje para que descasquem, com sorte, só amanhã ou depois. Se depila e depois cresce de novo. Corta o cabelo, depois cresce. Faz luzes, elas vão desaparecendo. E ainda tem bronzeamento, para quem tem coragem, que também some com o tempo.

Porque queremos estar "bem", e queremos estar belas, lisas, depiladas, com unhas coloridas, pés pintados, lixados.

Ok, mas poucas pessoas pensam no salão de beleza interior. Poucas pensam em estar efetivamente BEM. Em gastar em terapia o que gastam em um mês com os rituais de beleza. E então as pessoas ficam belas criaturas feias, cheias de conflitos mal resolvidos, cheias de traumas, neuroses e relações mal conduzidas, escondidas sob os cabelos escovados e as unhas em dia.

Não vou deixar de ir à manicure nem à depilação, até porque saber cuidar de si e investir nisso também é terapêutico, mas eu quero e preciso acreditar que, muito mais importante do que esse, o meu período no meu salão de beleza interior é para um tratamento sério e permanente, de melhoria constante, e que eu saia dele uma Luciane mais bonita, mais colorida e mais lisa, e que não descasque nas próximas curvas dessa vida.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

3 passos para ser um herói!




Brinde

A todas as coisas que sempre quisemos fazer mas achavamos que não poderiamos ou não devíamos.

A todos os medos que sempre achávamos que eram mais importantes do que o medo maior de não existirmos mais.

A todos os amores que achávamos serem possíveis de serem deixados para o futuro.

A todas as lágrimas que deixamos de derramar por medo de nos afogar.

A todas as distâncias que julgávamos instransponíveis e que nos empurraram para longe dos nossos desejos.

A todas as coragens que perdemos a oportunidade de conhecer.

A todas as pessoas que julgávamos que conhecíamos e que na verdade sempre nos foram estranhas.

A todas as vergonhas e arrependimentos que perdemos a oportunidade de experimentar por não querermos arriscar.

Tudo isso hoje ficou para trás porque agora não acreditamos mais com tanta convicção na certeza de um amanhã. E provavelmente agora, finalmente, estamos certos.

O infinito agora, paradoxalmente, nos parece mais próximo do que antes porque percebemos que nós não somos eternos. Mas algo precisa ser. E então repentinamente tudo se torna.

Essas xícaras são infinitas, o café é infinito e nossa voz e nossas vontades também.

Saúde.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Perdoando Deus

”(...) Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou de igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. (...) Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre (pp.41-42).

(...) E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. (p.42).

(...) Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte ” (pp.42-43).

(...) Talvez eu tenha de chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. (...) Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe” (pp.44-45).

* Do fantástico livro "Felicidade Clandestina", de Clarice Lispector.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Você sabe onde vivem os seus monstros?

Um filme lindo, sensível, despretensioso e delicado. Assim eu defino "Onde vivem os monstros". Aos meus olhos, o filme poderia perfeitamente estar retratando um processo terapêutico, onde o menino, através do contato com seus monstros, vai conhecendo e enfrentando partes de si próprio que ele desconhecia e que não compreendia, apenas sentia e precisava extravasar.

Eu estou em plena aventura com os meus próprios monstros, tentando me aproximar deles, ser deles a melhor amiga, a confidente. Tentar entender o que posso fazer por eles. Porque eu preciso deles. Eles estão dentro de mim para que eu não esqueça que existe a raiva, a inveja, a saudade, a tristeza e a solidão. Não podemos fingir que somos alegres o tempo todo porque não somos. Não podemos estar sempre cercados de pessoas para não enxergar que no fundo temos que aprender a lidar com nossa solidão.

Eu, que tinha medo do escuro quando pequena aprendi, lá atrás, que foi justamente ao encarar o medo e olhar atrás da cortina, olhar embaixo da cama e deixar meus pais apagarem as luzes, que finalmente pude dormir em paz com meus monstros. Agora, eu sei bem, eles já são outros. Maiores, assim como eu. Mas ainda assim, estou conseguindo apagar as luzes quando é preciso.

"Happiness isn't always the best way to be happy."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Cena II

"Porque os abismos não se cansam de mim. E eu, que sempre corri para buscar refúgio em teus braços, percebi que não eras tu quem me deixava escapar. Eu é quem sempre fui escorregadia"

Cena I

"Estás vendo essas escoriações em minhas mãos? São dos golpes que eu te dei e tu nunca soube. Quem sangra nem sempre é quem apanha. Eu venho derretendo dúvidas e anseios por medo de perder o controle e deixo de lutar contra o que realmente deveria. Estou farta de palavras engasgadas e de interpretações precipitadas. Cansei dos meus auto-abandonos e dos afastamentos voluntários que sempre provoquei. Eu nunca entendi por que o silêncio gosta tanto de falar comigo. Mesmo eu sendo sempre surda a ele. Mas não mais o serei. Acho que devo estar aprendendo a viver."

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sejamos

E repentinamente descobrimos que podemos ser melhores do que imaginávamos. Que podemos suspender-nos por um fio, quando estamos prestes a desabar, e dar um passo atrás. E que voltar atrás pode muitas vezes ser o progresso. Não há erro que não possa ser consertado. Mas não é voltando atrás e o corrigindo, pois não há volta, não há retrocesso. Pode-se corrigir um erro ao mudar. Ao ser novo a si mesmo. Ao surpreender-se. E descobre-se, então, que as pessoas sempre estiveram ali, e que o respeito que sempre desejávamos era um respeito próprio. Um elogio a si que nunca foi devidamente oferecido. Esperamos muito pouco de nós mesmos. Porque muitas vezes somos mesmo quase nada. Mas existem vezes, algumas vezes, com algumas pessoas, com algumas atitudes, que podemos ser tudo. Então sejamos.

Porque a vida é bem mais divertida em parceria...