terça-feira, 27 de outubro de 2009

A estética do poço

As paredes do meu poço são fundas, marcadas.
Ele foi construído cautelosamente, ao longo dos anos
A cada boicote, a cada falha, mais escavações.

Ele foi construído com cuidado e sem controle
e fica ali, à minha espreita
Quando convoca, mas também repele

Quanto mais fujo, mais preciso dele
Porque ele me acorda e me alerta
Para meus passos não serem fundos demais
Para minhas pisadas nao esmagarem meus sonhos,
Para meu corpo não se distanciar do que preciso

As paredes do meu poço são arranhadas,
Marcadas pela luta das minhas unhas
Não pelas quedas, mas pelas subidas.
Jamais lutei contra as quedas porque
tantas vezes eu mesma me atirei sem saber.

Às vezes o observo de cima,
as vezes nas bordas, às vezes
em seu fundo mais fundo.

Porque só quem conhece
sua parte mais bela e mais suja
pode transformar o poço em posso.

10 comentários:

Olhozinho disse...

às vezes não sabemos se nossas unhas se cravam nas paredes porque estamos caindo ou tentando subir... só aquele pezinho tocando no fundo é que nos dará a impulsão do retorno à superfície. Até lá, cavamos o caminho da queda, pois, como diz o Nei "tudo é caminho, deixa o bicho!".

Lara Amaral disse...

Adorei, Luciane!

Quantas lutas há em nosso poço. Transformá-lo em posso é a conquista diária.
Boa sacada!

Beijos.

Renata de Aragão Lopes disse...

Escrito a partir
de minha "M'água"?
Bem que poderia... : )

Beijão,
doce de lira

Nádia Lopes disse...

É ISSO AÍ LU...NO FUNDO DO POÇO, O POSSO DANDO FORÇA PRA SUBIR!!!
BEIJO

Luciane Slomka disse...

Tudo é caminho, Ju! E as companhias nesse caminho é que contam... Que bom te ter "aqui"! Beijos
***
Obrigada Lara! Beijao!
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Gostei do descivilizando, MArcos! É verdade, ninguém parece tolerar mais as quedas hoje em dia não? Obrigada pelo comentário!
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Re, sabe que fui lá ler de novo e me impressionei. COnscientemente não foi inspirado nele, mas certamente deve ter influenciado de alguma forma. Obrigada, querida! Beijo!
***
Força no posso, amiga Nádia!! Beijão!

adri antunes disse...

Lu, nossa, obrigada pelo comentário lá no meu blogue! sim, acho que aos poucos saio da infância das palavras, assim como vc tb parece estar no mesmo caminho. onde iremos parar, se vamos parar um dia, não sei, mas a sensação de poder falar por meio delas e encontrar novos amigos =D
ei, não moramos tão longe assim e estudo em porto, todas as sextas, agora tem feira do livro, quem sabe não marcamos de nos conhecer e tomar um coffé um dia desses?
:*

Luciane Slomka disse...

Gostei da idéia! Combinamos logo, então! :)
Beijo

Talita Prates disse...

Ahhhhhhh, genial isso:
"Porque só quem conhece
sua parte mais bela e mais suja
pode transformar o POÇO em POSSO."

Genial, genial!

Lu, tem uma frase
que um amigo sempre diz,
e que eu adoro:
"fundo do poço tem mola".

Bjo, querida!

Luciane Slomka disse...

Talita, querida, obrigada!
E é sempre bom pensar que quando se está no fundo do poço as coisas não tem outra opção senão melhorar, porque quando afundar mais é impossível, só subindo!
Beijo!!

lisa disse...

Nossa, arrasou no estado de entrar em si. Só falaremos de monstros depois de uma breve metamorfose.