sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Apontando meus lápis de cor

A menina atravessa a rua em frente ao meu carro, parado no sinal vermelho, em frente à escola dela.

Carrega livros e cadernos que parecem novos, sem nenhuma "orelha". Brilham. O uniforme que veste está limpo, como se tivesse sido passado a ferro pela mãe ainda ontem. Os cabelos estão perfeitamente presos num rabo de cavalo e o sorriso já assinou a presença em seu rosto.

E rápido assim, naqueles poucos segundos em que a vida dela encontrou a minha e nossas faixas de segurança se cruzaram, eu me transportei para esse tempo, em que o meu ano escolar recomeçava. Eu, entusiasmada com a nova "série", com os materiais, canetas e cadernos novinhos que eu ganharia. As novas matérias que eu aprenderia, os colegas que reencontraria, as pequenas grandes paixões de quem eu me esconderia ou flertaria. E me bateu uma saudade...

Não necessariamente de voltar a essa época, porque apesar de hoje a maioria das pessoas pensar que era feliz e não sabia na época do colégio, às vezes esquecemos também dos dramas e tristezas que a insegurança e as incertezas adolescentes traziam em nossas mochilas da Company.

O que eu quis, no instante em que eu atravessei a rua junto com a menina, foi que aquela sensação que eu sentia então, aquela euforia, voltasse a me encontrar em todos os meus marços. Ali eu quis que nessa próxima segunda-feira, quando eu recomeçar a trabalhar, eu possa sentir essa mesma agitação, que eu me dirija ao trabalho empolgada, curiosa para o que vou aprender de novo, quem irei reencontrar, os meus materiais novos que posso me dar de presente.

Porque nessa nossa vida escolar adulta, não temos mais o perigo de rodar de ano concretamente, o que na verdade é um grande risco. Não sabemos quando estamos sendo reprovados de verdade e justamente por isso podemos acidentalmente seguir errando e "rodando", literal e metaforicamente falando, e persistir colando nas provas ou não estudando o suficiente para aprender de verdade.

Quero ser uma boa aluna da minha vida nesse novo ano letivo que se inicia. Tenho a sorte de estar perto de bons mestres. Não quero ser a cdf que eu era no colégio. Posso até sentar na turma do fundão de vez em quando, porque é muito mais divertido, mas eu não vou esquecer as novas e as antigas lições...não vou deixar de fazer os meus temas de casa.

Vai, menina, atravessa essa rua e carrega contigo teus novos materiais, teus novos amores e teus novos sonhos. Deixa que o sinal abra, e eu possa arrancar rumo aos meus.

5 comentários:

Wania disse...

Oi, Luciane. Cheguei a voltar no tempo e sentir na boca o gostinho que tinha o primeiro dia de aula! Hummm... que delícia! Que este entusiasmo nos acompanhe em todos os nossos começos, sejam eles quais forem.
Obrigada pelo carinho que deixastes registrado no meu cantinho! Beijos.

Dona ervilha disse...

Que coisa boa lembrar desta época, né? Eu ainda tenho a minha mochila da Company :)
E sobre isso: "podemos acidentalmente seguir errando e "rodando", literal e metaforicamente falando, e persistir colando nas provas ou não estudando o suficiente para aprender de verdade", a sensação é exatamente esta. Mas é preciso fazer o possível e tentar manter o coração tranquilo. Bjo

Nádia Lopes disse...

ai Lu, que lindo e que gostosa essa lembrança, te garanto que com os filhos parte dessa emoção do material e do recomeço volta e nos convida pra recomeçar,é tão bom...
Sinto que como diz o Millor "viver é desenhar sem borracha" não teremos nunca mais (vinda de fora) a real dimensão dos nossos 10 ou 0, agora o boletim, os vermelhos, e todas as cores possíevis e vem de dentro...

beijooo
ps- te mandei fotinhos da family pro hot espia lá!

Luciane Slomka disse...

Queridas companheiras de Picada Café...boas lembranças essas antigas e as mais recentes, de novas colegas, também! ;) Beijos!

Henrique Crespo disse...

Uma menina com seus livros e cadernos atravessando a rua. Uma imagem que remete a uma boa metáfora.