quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A indiferença que enlouquece

Já percebi que estou deixando minha imaginação vir muito mais a tona porque sei que agora eu tenho um espaço para largar tudo isso... E só por esse fato já está valendo a pena me arriscar nesse mundo virtual.

Hoje, indo ao trabalho, vi um homem na calçada, falando consigo mesmo em voz alta, gesticulando, etc. Aqueles vulgos "louquinhos" de rua. De pés descalços e roupas sujas...

Fiquei parada na sinaleira assistindo àquela cena e pensando: o que leva uma criatura a chegar nesse ponto de loucura ou ausência de realidade? Que tipos de privação e isolamento essa pessoa foi vivendo ao longo da vida que o fez ter que criar esse mundo paralelo em que ele vive? E ao pensar nisso sempre lembro que esse "potencial psicótico" está dentro de cada um de nós, mas sempre que imaginamos algo absurdo ou fantasioso temos nosso famoso super ego ou o princípio da realidade, que nos faz lembrar de que aquilo é absurdo, que obviamente não podemos fazer ou dizer nada e então ninguém nunca ficará sabendo das maluquices que a gente pensa diariamente e esconde.

Mas essas pessoas não precisam mais esconder. Não conseguem. Não podem. Enlouquecem para sobreviver porque já atingiram um nivel de abandono em que já nem deve fazer mais diferença perceberem ou não a própria loucura.

É triste e assustador pensar nisso: Que a indiferença enlouquece. E que eu, você, qualquer um, também pode enloquecer. É só não ser notado, não existir aos olhos de alguém.

2 comentários:

Henrique Crespo disse...

O conceito da invisibilidade tem relação inclusive com a violência. O sociólogo Luiz Eduardo Soares falou sobre isso em seu livro Cabeça de Porco.

Luciane Slomka disse...

E também tem muito a ver com o adoecimento físico também. Crianças desinvestidas desse afeto, de serem vistas e reconhecidas crescem muitas vezes sem capacidade de perceberem seu corpo, de se enxergarem. Valeu a dica, Rick. Vou atrás desse livro!