
Ele chega e começa a soltar seu verbos. Verbos, substantivos, adjetivos e risos. E dali vieram informações, sugestões, críticas, opiniões. Recebemos vento, trovões, raios de sol. Disse ele que quem não é cruel consigo não consegue ser generoso com os outros. Que a escrita deve ser esse exercício de crueldade consigo mesmo, de se achincalhar, de rir de si mesmo, de brincar com nossas limitações, com nossa própria história, com nossos dramas.
A gente não pode escrever para se proteger, ele também nos disse. É preciso escrever para se expôr, para colocar merthiolate na ferida aberta, sangrando, e sentí-la arder. Só então posso contar alguma coisa interessante a quem quiser ouvir. E também não é para agradar ninguém, não é para que ninguém goste mais ou menos do meu texto ou de mim (aliás, sou quem eu escrevo, escrevo o que sou?). A vaidade está sempre no pacote mas não pode ser ela quem rege minha escrita. Escrevo para vomitar no papel. Escrevo para tentar achar palavras que dêem vida e forma aos meus sentimentos e pensamentos mais profanos e mundanos. Porque não existem verdades, existem versões. E a formalidade distancia. A simplicidade aproxima. É preciso aprender a arte de ser simples. Cru. Visceral.
Ele transformou um aquário em um ninho de peixes. Ele transformou a morte de uma avó antes do carnaval numa quarta feira de cinzas antecipada. Transformou a própria morte em uma garrafa vazia.
Escrever é isso.
E convívio é isso: Conhecer pessoas, tomar banho de rio, conviver com o silêncio, se aproximar da paz, comer bem, rir, estar de pés descalços, rir de homens que usam pantufas, rir com perucas. Cantar com vozes doces e violões. Cantar com poesia.
E obrigada a uma pandorga que esteve por lá voando comigo que me deu um presente em forma de diálogo de filme:
"- Mas não foi uma escolha. Simplesmente aconteceu...
- É, mas é assim que se escolhe quando não se tem coragem: deixando acontecer"