
Carrega livros e cadernos que parecem novos, sem nenhuma "orelha". Brilham. O uniforme que veste está limpo, como se tivesse sido passado a ferro pela mãe ainda ontem. Os cabelos estão perfeitamente presos num rabo de cavalo e o sorriso já assinou a presença em seu rosto.
E rápido assim, naqueles poucos segundos em que a vida dela encontrou a minha e nossas faixas de segurança se cruzaram, eu me transportei para esse tempo, em que o meu ano escolar recomeçava. Eu, entusiasmada com a nova "série", com os materiais, canetas e cadernos novinhos que eu ganharia. As novas matérias que eu aprenderia, os colegas que reencontraria, as pequenas grandes paixões de quem eu me esconderia ou flertaria. E me bateu uma saudade...
Não necessariamente de voltar a essa época, porque apesar de hoje a maioria das pessoas pensar que era feliz e não sabia na época do colégio, às vezes esquecemos também dos dramas e tristezas que a insegurança e as incertezas adolescentes traziam em nossas mochilas da Company.
O que eu quis, no instante em que eu atravessei a rua junto com a menina, foi que aquela sensação que eu sentia então, aquela euforia, voltasse a me encontrar em todos os meus marços. Ali eu quis que nessa próxima segunda-feira, quando eu recomeçar a trabalhar, eu possa sentir essa mesma agitação, que eu me dirija ao trabalho empolgada, curiosa para o que vou aprender de novo, quem irei reencontrar, os meus materiais novos que posso me dar de presente.
Porque nessa nossa vida escolar adulta, não temos mais o perigo de rodar de ano concretamente, o que na verdade é um grande risco. Não sabemos quando estamos sendo reprovados de verdade e justamente por isso podemos acidentalmente seguir errando e "rodando", literal e metaforicamente falando, e persistir colando nas provas ou não estudando o suficiente para aprender de verdade.
Quero ser uma boa aluna da minha vida nesse novo ano letivo que se inicia. Tenho a sorte de estar perto de bons mestres. Não quero ser a cdf que eu era no colégio. Posso até sentar na turma do fundão de vez em quando, porque é muito mais divertido, mas eu não vou esquecer as novas e as antigas lições...não vou deixar de fazer os meus temas de casa.
Vai, menina, atravessa essa rua e carrega contigo teus novos materiais, teus novos amores e teus novos sonhos. Deixa que o sinal abra, e eu possa arrancar rumo aos meus.