- Eu vivo um paradoxo que me congela: eu tenho medo que a vida cotidiana me roube da escrita, mas minha escrita se alimenta dessa mesma vida.
- Esse não é um paradoxo, sabe por que? Porque a escrita não se alimenta dessa vida aparente, essa vida domesticada da qual tu achas que extrai tua fonte. A escrita verdadeira germina da vida selvagem, da vida paixão, vida sem regras, vida sem moral.
- Ok, mas eu não consigo viver essa vida. Eu vivo a vida domesticada mesmo!
- Perfeito. Eu também. Porque, na verdade, ninguém suporta viver nessa vida impulso que eu exaltei há pouco. Porque se todos a vivessem ela já não seria clandestina e nem selvagem! Seria vida comum. E ela precisa ser rara e incomum para poder ser sentida como voraz, errante e louca. É preciso viver a vida palco, roteirizada, para ter a vida bastidores, que é a que realmente interessa, que é a que nos faz respirar e escrever. Eu sei que a vida é um espetáculo sem chance para ensaio, mas eu acredito em coxias e em camarins.
- Mas existe mesmo esse lugar?
- Eatamente onde você está. Agora vai, entra em cena.
- Mas existe mesmo esse lugar?
- Eatamente onde você está. Agora vai, entra em cena.
Um comentário:
Pior que não só existe, como "xistir" ao invés de viver, pode ser uma coxia eterna...
beijo-saudade de te ler!
Postar um comentário