quinta-feira, 16 de julho de 2009

Um dos poemas da minha vida

"Uma arte toda sua"
(Elizabeth Bishop. Trad.: Bruno Tolentino)

a arte de perder vem com facilidade
em tantas coisas há uma tal propensidade
um tal amor à perda, que dá mesmo vontade

de perdê-las. De início, perde um item por dia:
molho de chaves, papelada, a hora vadia
esperdiçada - perde e aprende a mais-valia

da arte desastrada de perder... Mais à frente
perde com mais audácia, sê bem mais diligente:
perde nomes, lugares, a viagem iminente

que ficou por fazer, entre um talvez e um quando.
Perdi o relógio de mamãe e um dia, olhando
minha última casa ir se juntar ao bando

das que se haviam ido, fiquei bem deprimida,
sofri, mas não morri. Afinal, é a vida.
a arte de perder, desastrosa e fingida,

despede-se mas volta: perdi duas cidades
(belíssimas!), um rio e, trêmula de saudades,
perdi um continente inteiro! Mas quem há de

esquivar-se a um mistério, se a arte de perder,
desastre ou não desastre, é algo inerente ao ser?
Perder-te, por exemplo, pouco a pouco esquecer,

ou já nem ver direito um gesto teu, um modo
todo teu de dizer... Aceito-o; não de todo,
é claro, algo se insurge, escapa, cai no lodo

de enxurrada da vida, mas que se há de fazer?
Eu recomendo dar de ombros, pois perder
dói sim, mas (toma nota!) ensina-te a escrever...

10 comentários:

Nadia disse...

ADOREI também Lu..com certeza perder ensina ou ao menos ajuda a escrever!
beijooo-saudade

nadia disse...

ah, esqueci de comentar AMEI essa pena voando também!
beijo

Luciane Slomka disse...

Oi Nádia! Também tô com uma saudade enorme! Bruno Tolentino é maravilhoso! Procura pelo livro "O mundo como Idéia".
Sabe que eu gostei da pena também? Obrigada amada! Beijos!

Renata de Aragão Lopes disse...

QUE LINDO!

afinal, é a vida
a arte de perder,
desastrosa e fingida

Luciane Slomka disse...

Oi Re!
Que bom que tu gostou do Tolentino...esse trecho é lindo mesmo! Mas o teu doce de hoje também! :) Bjo!

João disse...

Linda a pena!!! A dor de perder marca mais que a alegria de vencer

Luciane Slomka disse...

Verdade, João...a dor da perda marca. Mas talvez marque mais porque a gente lembra bem delas quando aprende com elas e consegue as vitórias futuras graças a elas! A dor da perda ensina a saber o que iremos querer de ganhos daqui para frente!

Luciane Slomka disse...

Ah, que bom que tu gostou da pena... Bjo

pensar disse...

Adorei o poema, e a cara nova do blog tbem.O problema nunca foi perder, o problema eh nossa mania de querer reter-conter, ah vida eh assim .... movimento, fluidez.Dificil eh botar isso realmente em pratica, mas q dah dah
bjs

Luciane Slomka disse...

É bem isso Mari. E a gente pode ir aprendendo a perder. A saber abrir mão e aprender que não podemos ter tudo, por mais que a gente queira... Vamos em frente! Bjo!